segunda-feira, 5 de março de 2012

Tratamentos desiguais

A viagem foi ótima, posso adiantar que amei São Petersburgo e quero voltar!!! Foi triste o momento "levantar acampamento". Ainda tenho que selecionar entre as mais de 1500 fotos que fizemos e confesso que nem sei por onde começar!!! Foram alguns dias de agitação e descanso ao mesmo tempo, e foi ótimo passar 4 dias sem telefone, sem internet, sem blog e sem facebook, por escolha, já que no nosso hotel tinha wi-fi disponível gratuitamente. 

Mas se foi muito simples entrar e sair da Rússia, foi um pouco mais complicado entrar e sair da "Europa".

Como falei aqui há algum tempo, por enquanto tenho que renovar todos os anos a minha permanência aqui. Desta última vez, ainda recebi pelo correio todo o meu dossier "recusado" por documentação incompleta, sendo que eu tinha enviado tudo há 3 meses, tudo que estava na lista que me dera. Mas na "recusa" eles incluiram à mão um documento que não estava na lista original!

A "carte de séjour" francesa é como uma carteira de identidade, e é assim:

Como resultado, minha carta de 1 ano não ficou pronta e tive que pedir um documento provisório. Ele é assim:
Eles grampeiam esse papel (récépissé) na carte de séjour e teoricamente temos que andar com os dois juntos, em caso de controle ou problemas. Basta os dois para circular na França, mas basta sair do país, mesmo na união européia, é necessário igualmente o passaporte.

Meu vôo de ida para São Petersburgo foi pela Lufthansa e tinha escala em Frankfurt. Lá no aeroporto, quando passei pela imigração, apresentei apenas meu passaporte. A mulher que me atendeu folheou, pediu a carte de séjour (até usou o termo em francês) e me perguntou meu motivo de residência na França. Felizmente eu a tinha comigo, mas fiquei me perguntando o que aconteceria se não tivesse... Não carimbaram meu passaporte, será que é por que moro aqui?

Na volta, meu vôo era pela Swiss Air, com escala em Zurique. A gente percebe então que europeu do oeste não gosta mesmo de europeus do leste (aqui colocam tudo "no mesmo saco" e chamam todos de países do leste no sentido pejorativo que o termo pode conter, independente se a criatura vem da Rússia, Polônia, Roménia, República Tcheca, Hungria, Ioguslávia*, etc...). Na saída do avião já tinha um grupo de policiais de fronteira pedindo para todo mundo sair do avião mostrando o passaporte. Quem tinha passaporte da União Européia passava direto, quem tinha passaporte russo era parado rapidamente para verificação do visto, e no meio de tantos passaportes bordôs e vermelhos, lá estava eu com um passaporte azul que chamou a atenção dos funcionários. A conversa foi a seguinte:
- Onde você vai?
- França.
- Mas você está na Suiça (como se eu não soubesse desse detalhe!!! Tive que resistir muito para não responder "ah bon? Não sabia!)
- Eu sei, tenho uma conexão para Paris. 
E mostrei meus dois papéis acima. Olharam em todos os sentidos e me liberaram...

Naquele terminal pelo que percebi chegavam naquele momento apenas vôos  oriundos da "europa do leste". A gente percebe que está realmente em um país de primeiro mundo, tudo limpinho, espaçoso, asséptico. No mesmo momento tinha vôo que chegava de Bucarest, Sofia, Minsk. Uma fila enorme para passar no detector de metais. 
Nunca tinha reparado nisso antes, mas no meio naquele saguão enorme tinham umas cabines como de provador de roupa de loja, com aquelas cortininhas... Demorei alguns segundos para me ligar que era para a revista (bem) íntima!!!

Coloquei minha bolsa no cestinho com uma sacola de tecido onde estava meu gorro, écharpe e um envelope pardo de tamanho A4 contendo 3 pinturas que Sylvain tinha comprado e que não podiam amassar de jeito nenhum.

Meu cestinho ficou bloqueado!!! Felizmente eu passei sem precisar de revista íntima e fiquei lá esperando os meus pertences. Após uns bons minutos vem um funcionário e começa a abrir tudo e apalpar tudo. Não quero dizer qual a melhor forma de fazer o seu trabalho, mas não seria melhor tirar tudo ao invés de ficar amassando cada conteúdo? Sem contar que ele começa a amassar o envelope com as pinturas!!! 
Sylvain ao meu lado estava branco, me dizia que ele estava amassando tudo... Enfim ele decide repassar meus pertences na maquina e vai até o aparelho para repassar o meu cestinho. Vi de longe, mas não podia voltar no controle para acompanhar o processo. Ele volta e me devolve o cesto...

Mas quem diz que o envelope com as pinturas estava ali dentro?

Entrei em pânico e pela primeira vez na vida vi Sylvain nervoso. Tentei explicar que estava faltando um envelope pardo e o imbecil do suiço insistia que não tinha visto envelope nenhum!!! Eu insistia que sim, descrevi as pinturas, disse que ele ainda tinha aberto,  e tocado em cada canto e que eu não sairia dali sem o envelope. E ele ali insistindo para que a gente saísse dali e avançasse. 
Então eu tento olhar em toda a esteira e sinalizo que do outro lado tinha um envelope como o nosso, mas estava no cesto de uma outra pessoa. Ele não queria nos deixar passar mas eu insisti com Sylvain e ele foi lá, abriu o envelope e era o nosso!!! A mulher pediu desculpas (mas nem era sua culpa, pois ela também estava esperando seu cestinho como nós e não tinha tocado nele), e o funcionário ainda tira o envelope das nossas mãos e diz, antes de nos devolver:
- Que fique bem claro que esse envelope nunca esteve em minhas mãos. Vocês que não sabiam onde o tinham colocado.

Que ódio!!! Mas fazer o quê, a gente tem que se submeter... Pouco mais tarde ainda tive que passar pela imigração para de fato "entrar" da Suiça e mais uma vez tive que mostrar meus mil papéis e responder a todas as perguntas possíveis sobre a minha permanência no país.

Olha, foi cansativo e estressante! Então por isso sempre aconselho a quem viaja pela Europa de ter todos os documentos em sua possessão. Se a gente não pode evitar os problemas, podemos ter em mãos todas as soluções!

Pronto, desabafei!

* salientando que esse último "país" não existe mais, ou seja, foi desmembrado e deu origem a outros nomes. Mas ainda fica no imaginário dos europeus que como eu disse mais acima, colocam todos os "europeus do leste" no mesmo "saco".

** a minha nova carte de séjour é parecida com um cartão de crédito, trata-se do novo formato.

11 comentários:

little cintia disse...

Ah, meu pai amado, que estresse. Odeio imigracao em QUALQUER pais. Alias, odeio aeroporto!

Nadja Kari disse...

Já passei por situações parecidas... e sempre fico com o estomago pulando toda vez que tenho que passar pela segurança do aeroporto. Isso porque sempre faço tudo dentro das regras!!! è só o nervosos mesmo!!!

Liza disse...

Chato mesmo esse povo, ne?!
A uns anos atras quando ainda tinha visto de estudante uma mulherzinha na imigracao (com certeza mal amada!) disse pra mim: Esse visto te da direito a estudar e nao a se casar!

Me deu uma raiva!!
Como ela ja tinha carimbado meu passaporte eu puxei da mao dela e disse: E quem disse que eu quero me casar anytime soon?

Cada uma que a gente passa, ne?!

Beijos

Sandra disse...

Que carinha idiota esse do aeroporto hein!?. Eu também odeio imigração!! Aquelas cabininhas com cortinas no Aeroporto de Zürich? Já estive lá! mas foi tranquilo, a menina que me revistou foi super educada e depois ela me disse que apitou por causa de um pingente que tinha no meu sutiã...hahaha. Uma vez em Frankfurt em um voo de conexão para o Brasil me encheram a paciência no aeroporto. Deu vontade de dizer: Estou aqui somente para ir ao Brasil, não quero viver na linda Alemanha, meu senhor! Mas é isso, a gente precisa se submeter e responder a tudo educadamente, senão a situação para o nosso lado pode piorar bastante.

Milena F. disse...

Meninas, eu também faço tudo nas regras, morro de medo de ser chamada em uma "salinha" e ter que dar explicações. Mas desde que resido aqui e viajando com todos os documentos acabo muitas vezes "esquecendo" que sou "diferente" de quem tem um passaporte europeu, e então sempre me surpreendo que mesmo com documentos em regra ainda tenho que responder milhões de perguntas!

Sandra, bom saber que na tal "cabine" foi tranquilo com você. Eu ainda nunca tinha visto esse sistema, pois que eu saiba na França não tem essas cabines, mas apessoa é dirigida a uma salinha. Fiquei imaginando que as cabines serviam para revistar TUDO mesmo, como quando eles encontram droga ou outros objetos proibidos bem introduzidos nas partes íntimas...
Pela Alemanha apitou quando passei pelo detector de metais, mas me revistaram com roupa mesmo e foi meu sutiã (sempre uso aqueles com armação, acho que vou ter que comprar um outro tipo apenas para viajar!). Sorte que não apitou na Suiça (já que eu estava com o mesmo!!!)

Juliana disse...

Oi, Milena,
Soh queria te dar um "toquinho": a Iuguslávia não existe mais. O desmembramento do país começou ainda na primeira metade dos anos 90. Não tiro a riqueza do seu post, queria apenas alertar para esse deslize geo-político e para que você mesma possa, talvez, aprender algo novo. Falar da Iuguslávia é como dizer que você viajou para São Pestesburgo, na URSS, ao invés de Rússia. Os seis países que compõem a ex-Iuguslávia são: Sérvia, Montenegro, Eslovênia, Croácia
República da Macedônia e a
Bósnia-Herzegovina.
Abraços

Milena F. disse...

Juliana, assim que a gente vê quem está atentiva!!!
Mas apesar de ser um país que não existe mais, ainda está presente para muitas pessoas que viveram nele, e no imaginário dos europeus (pois como eu disse, colocam tudo no mesmo saco!)
Conheço várias pessoas que vieram da ex-ioguslávia, e até hoje, apesar de não serem velhos (eles têm a minha faixa etária), se alguém pergunta a origem, eles respondem "ioguslavo", e quando voltam de férias para visitar a família, a mesma coisa "estou indo para a iuguslávia". No ano passado ainda vi um documentário na tv francesa com um grupo de meninas (dessas que roubam no metrô) e elas tinham "orgulho" dedizer que vinham da Ioguslávia.
E ainda tem o Kosovo, que para alguns é um país autônomo e para outros não.
Mas eu achava que tinha sido só recentemente (há menos de 10 anos) que o país tivesse de fato sido desmembrado.

Tatiane disse...

Zurique é bem chatinho mesmo, lembro de um voo vindo do Brasil e eu moro super perto da fronteira, estava vindo com o visto e encheram de perguntas do porque ter vindo pela Suiça afinal eu iria para a França e eu respondi sempre firme porque eu morava proximo a fronteira, e nesse voo todos os brasileiros sem exceção foram paradas e revistaram a mala com um aparelho, checaram passaporte novamente na zona de bagagem é um controle bem rigido na Suiça! Mas apesar de todo controle eu acho até certo!

jorge fortunato disse...

Em 2007, viajando de Budapeste para Viena, passei por uns minutos de tensão. viajava com um amigo e os policiais húngaros pediram nosso passaporte, isso no trem. Tudo normal. Assim que o trem entrou na Áustria passou outro policial, austríaco, claro (tipo schwarzenegger). Viu meu passaporte - tudo ok. Quando pegou o do meu amigo ficou intrigado (o dele era azul). Até explicar que aquele era do Mercosul... mas depois tudo tranquilo. Essas situações são chatas, mas fazem parte da rotina. Só acho que alguns funcionários sentem um certo prazer em criar um clima tenso.

Milena F. disse...

Tatiane, vc já viu, heim? Se eu escolhi fazer uma comexão, certamente foi o preço que me inluenciou! Concordo que o controle tem que ser rígido mesmo em relação ao que entra ou sai do país, controle de documentos, mas as vezes eles exageram, como me tirando para burra e dizendo que eu estava na Suiça! além disso, querem controlar as bagagens? certo, mas certifiquem-se que depois a mesma é entregue ao bom passageiro! :)

Jorge, isso mesmo... Alguns exageram na postura... E só assunta quem é innocente mesmo, pois quem já tem "experiência" em enganar as autoridades, não vai ser cada feia que vai assustar!

Juliana, mas dois exemplos para ilustrar o que eu queria dizer: ainda essa semana encontrei uma jovem com o mesmo nome que eu, quando tocamos na coincidência era me perguntou: "vc é iuguslava?", respondi que não, que era brasileira, e ela me disse que Milena é um nome de origem eslava e muito comum na Ioguslávia, de onde ela vinha! Perguntei há quanto tempo ela estava na França, ela me disse que 4 anos...
A minha chefe me apresentou à babá de suas filhas, e em relação ao meu nome, ela tb me perguntou se eu era iuguslava! Disse que não, que era brasileira, e ela me disse que a irmã dela, (iuguslava como ela, na sua frase) se chamava Milena! :)

Thiago Marcondes disse...

É complicado mesmo!! A polícia da imigraçao cria caso com todos e penso que é aleatório mas pode ter influência sim!! Eu que tenho passaporte europeu e mais outros tres que tb tinham fomos parados por um agente da imigracao italiana,mesmo ele vendo nosso passaporte europeu fez perguntas de praxe! Agora me pergunto se leis funcionam pois eles nao poderiam yer feito isso de acordo com o tratado de shenguen!e o engraçado e que o resto do prssoal sem passaporte europeu passava diretooo !! Vai entender!! Pra mim perguntaram: onde vai?? Eu disse roma quanto tempo? Eu disse um mes quanto trm de dinheiro?? 50 euros ele disse 50 euros pra passar 30 dias ?? Eu disse sim, pois meu amigo iia bancar a viagem!!! Ai de onde conhece esse amigo?? Eu disse do Brasil!!! Ai eu com raiva falei:: quer falar com ele ele ta na linha!! Pois ele tinha me ligado naquela hora ai fizeram outras perguntas e depois liberaram!!!!