segunda-feira, 7 de março de 2016

Auschwitz - Birkenau

Estivemos semana passada em Cracóvia, na Polônia, e mesmo se não tínhamos planejado com antecedência a visita de Auschwitz, chegando lá e após visitar a antiga fábrica de Oskar Schindler, o bairro judeu e o antigo gueto, sentimos a necessidade e fomos.

Em alta temporada (de abril à outubro) a visita deve ser agendada previamente pela internet ou em uma das agências e deve ser feita em grupo. Como estávamos em baixa temporada tivemos a opção de fazer a visita individualmente, e foi o que fizemos.

Portões de Auschiwitz

O antigo campo de concentração nazista de Auschwitz fica a 66km de Cracóvia, na cidadezinha de Oswiecim.

Tecnicamente existe uma diferença entre campos de concentração e campos de exterminação, e Auschwitz é mundialmente conhecido pelas duas funções. Se no início essa antiga caserna militar foi recuperada pelos nazistas para receber prisioneiros políticos e de guerra que eram reduzidos ao trabalho forçado, muito rápido sua capacidade foi esgotada e os nazistas julgaram necessário construir um anexo localizado à 3km, chamado de Auschwitz II - Birkenau, com capacidade para 100 mil prisioneiros. Foi dali que a grande maioria nunca mais voltou.
A partir de 1942 os judeus e outras minorias eram direcionados a esse campo de exterminação, de fácil acesso para praticamente toda a Europa.


O primeiro campo é bem menor, e é nele que encontramos a famosa frase "o trabalho liberta", quanta ironia, quando sabemos que o trabalho só contribui para matá-los mais depressa. Os prédios são todos de tijolos vermelhos e uniformes, quem não conhece a história e não entra não sabe os horrores dos quais aquelas paredes foram testemunhas. 



Alguns prédios são abertos à visitação e contam o que se passou ali. No Bloco 4 podemos ver os cabelos dos deportados, que eram vendidos, ainda que 7 toneladas fossem encontradas pelos soviéticos na liberação! Também podemos ver latas do Zyklon B, o pesticida que era utilizado nas câmaras de gás. 

Em outro bloco (5) ficamos sem voz diante de montanhas de calçados das vitimas, próteses, armaduras de óculos e outros objetos pessoais.

Entre os blocos 10 e 11 ocorria o pelotão de execução. Aquele muro fala e sua sangue.

No bloco 11 encontravam-se celas de isolamento, algumas em que os prisioneiros não podiam sentar nem deitar, de tão pequenas, sufocando sem janelas. Se sobreviviam a uma noite ali, ainda tinham que sair para trabalhar mais de 10 horas. No subsolo foram realizadas as primeiras tentativas com o Zyclon B, antes da construção da câmara de gás, do outro lado do campo, onde até 500 pessoas por dias eram executadas, depois incineradas nos fornos ali presentes e cujas cinzas eram utilizadas como adubo.

Em um dos 2 blocos antes utilizados como enfermaria, o que nos interpela desdo o inicio é o cheiro de hospital. Difícil contar quantas experiências foram realizadas ali.

Outros blocos mostram fotos, documentos, imagens ou reconstituição da época. 

Se para alguns a visita parece um pouco light até ali, ela se termina com a câmara de gás, testemunha muda dos massacres onde as vitimas deixaram suas marcas:


Impossível descrever meus sentimentos diante de uma amostra da monstruosidade que os seres humanos foram capazes de cometer. E pensar que muitos outros atos cruéis e desumanos são cometidos todos os dias, não muito longe de nós, alguns mais, outros menos evidentes.

Depois da visita do primeiro campo, fomos até Birkenau. A paisagem é desoladora. 

Em um terreno umido e sem nenhum abrigo do vento, o trem entrava diretamente no campo. Mais de 1000 prisioneiros poderiam chegar em cada grupo, e ali descendo eles eram selecionados pelo Dr. Mengele ou um de seus assistentes.
Entrada de Birkenau

Alguns eram selecionados para trabalhar, outros para experiências, enquanto outros, as vezes 900 (dos mil que chegaram) eram enviados diretamente às câmaras de gás, em grande parte mulheres, crianças e idosos. 5 mil podiam ser executados e incinerados por dia. Claro que ninguém dizia que eles seriam executados, mas que teriam que passar por uma sala de desinfecção, e existiam mesmo falsas duchas para enganá-los. 
Nesse campo os galpões eram de madeira, no total mais de 300, espalhados de forma geométrica, e das torres de controle se tinha uma visão geral do campo. Himmler, o chefe da SS que ordenou a construção do campo e decidiu fazer dele um local de exterminação em massa sabia o que estava fazendo: ele possuia um abatedouro de frangos antes da Segunda Guerra.

As latrinas de passagem coletiva, onde até mesmo o tempo era cronometrado nos mostra um pouquinho as condições inumanas. 

Se durante a visita do primeiro campo eu consegui me sentir "normal", foi em Birkenau que eu senti permanenetemente um frio na espinha, a garganta apertada, um mal-estar horrivel e só conseguia pensar em ir embora. As distâncias são enormes, e mesmo na hora de sair, o tempo necessário para caminhar até os portões parecia uma eternidade, e a gente se dá conta que os prisioneiros realmente não tinham nenhuma chance

A visita é realmente muito triste, mas eu considero fundamental pois não podemos esquecer esses crimes que foram cometidos há nem tanto tempo atrás. Além disso, nem sempre as pessoas conseguem ter uma idéia do que realmente se passou naquela época. Infelizmente o mundo nunca foi Disneyland e não podemos fechar os olhos para o que se passa ou se passou ao nosso redor. 

Não podemos esquecer que muitos desses criminosos terminaram suas vidas em liberdade, como um dos principais: o Dr. Mengele, que viveu no Brasil após a Guerra em completa liberdade e morreu em 1979.

Achei muito marcante essa esse texto que encontrei por la:

"Quando vieram buscar os comunistas, eu não fiz nada, pois não era comunista;
Quando vieram buscar os socialistas, eu não fiz nada, não era socialista;
Quando vieram buscar os judeus, eu não fiz nada pois não era judeu;
O mesmo aconteceu quando vieram buscar os ciganos, homossexuais, e todos os outros;
Quando vieram me buscar, ninguém pôde fazer nada. Não tinha sobrado mais ninguém."

Informações praticas:

Fomos de ônibus saindo da estação central (estação de ônibus ao lado da estação de trem). O trajeto custava 14zl (pagos diretamente ao motorista) e durou 1h30, nos deixando na entrada de Auschwitz. Realizamos a visita livre e gratuita (entre abril e outubro as visitas devem ser guiadas e custa 40zl). Existe uma cafeteria no local e banheiro (pago: 1,50 zl). 

Um ônibus gratuito leva os visitantes até Birkenau, à 3km de la, a cada 15 minutos. Não aconselho ir à pé pois o caminho inclui uma auto-estrada e um viaduto, não muito agradavel de caminhar, ainda mais no inverno, com neblina e visibilidade baixa.

Para o retorno basta seguir as instruções no sentido inverso.

Excursões são organizadas saindo de Cracóvia e buscando e direto no hotel, à partir de 99zl (79zl para estudantes, não conheço os detalhes). Eles buscam no hotel às 10h e retorno previsto às 17h. Cuidado! No serviço de turismo nos aconselharam a tomar cuidado e escolher excursões oficiais, pois muitas empresas não oferecem nenhuma segurança, existe muita desonestidade segundo a funcionaria. 

A maioria recomenda a visita guiada, mas eu acho legal somente se você entender muito bem a língua do guia (acho que não tem em português e no dia em que fui não tinha mais vaga em francês, a maioria sendo em inglês). Particularmente não gosto de um guia falando horas e horas sem parar, prefiro ler e usar o tempo para pensar, é uma preferência bem pessoal. 

quinta-feira, 3 de março de 2016

36 com Serenidade

Já me criticaram muito me chamando de "deslumbrada" como se fosse algo ruim ou negativo se deixar encantar pelo que a vida tem a oferecer...

março de 2016
Mas quer saber?
Me sinto muito feliz em completar 36 anos e ainda me "deslumbrar" com algum lugar que visito, pode ser o distante Japão, ou mais uma cidade francesa aqui pertinho, cada um tem seu charme e seus atrativos.
Nancy, França, fevereiro de 2016

Ainda consigo me emocionar com uma obra de arte, pode ser ver de perto a "Dama com Arminho", do Leonardo da Vinci, milhares de vezes vista nos livros e documentários, pode ser descobrir um novo artista que até então nunca tinha ouvido falar, como foi "entrar" na obra da artista japonesa Yayoi KUSAMA.

2016

Fico muito feliz (a balança menos) de provar uma nova comida ou sabor, ou de comer pela milésima vez algo que eu gosto.

Pode ser em passear com o meu marido, e apesar dos anos que passamos juntos (já se foram 7) sentir a mesma alegria dos primeiros encontros.


Levo uma vida simples, sem muitos luxos para os padrões de onde eu vivo, trabalho bastante, e só tenho a agradecer por nunca me faltar nada, nunca me entediar e sempre ir dormir com a sensação de que aquele dia, por mais que tenha sido ordinário, valeu a pena ter sido vivido.