domingo, 6 de abril de 2014

Eu ando de ônibus!

Há poucos meses eu comentei por aqui o quanto me chocava o fato de sermos julgados no Brasil pelo tipo de transportes que usamos.

Uma parte significativa da sociedade fala mesmo! Quando eu morava lá, quantas vezes as pessoas me falavam que era absurdo eu, que tinha estudado, tinha um bom emprego, chegar no trabalho em transporte público. Uns amigos realmente cheios da grana diziam que eram "obrigados" a ter e trocar de carro de luxo todo ano, pois na área de trabalho/negócios deles avaliava-se o sucesso de alguém pela imagem (=carro, etc). Outro dia um amigo médico comentou no facebook que estava trabalhando em Canoas (uma "cidade dormitório" ao lado de Porto Alegre) e que ia ao trabalho de metrô (rápido, limpo e eficaz). Para quê... os comentários eram uns piores do que os outros, do tipo: "onde já se viu médico usando metrô?", "se a situação dele estava realmente tão ruim para ir trabalhar nessa cidade"... e por aí vai. 

(E são os mesmos que criticam o Programa mais Médicos, mas na verdade é raro encontrar um médico brasileiro que queira ir trabalhar em cidades que não sejam "da moda", ou mesmo se tem um que quer, é visto pelos colegas como inferior profissional e economicamente, mesmo se ele pode estar ganhando mais!)

Mas, e por que faz bem andar de transporte público?
- do ponto de vista ecológico, as grandes cidades não suportam mais tantos veículos e tanta poluição. 
- você caminha mais, o que faz bem para a saúde, pode ter certeza! 
- Durante o seu trajeto em ônibus/metrô, você pode ler, escutar música, notícias, aprender um idioma, navegar pela internet... Ou socializar-se se gosta de falar, ou observar as pessoas, o que também ajuda a conhecer o ser humano.

Não é só na França que utilizo transportes públicos. Sempre que vou ao Brasil também utilizo, pode ser em Porto Alegre, no Rio, Recife ou Curitiba, mas realmente as pessoas ficam chocadas que EU (que nem sou famosa nem rica) ande de ônibus ou metrô ao invés de alugar um carro ou andar de taxi. O brasileiro tinha que entender que não é vergonha nenhuma pegar ônibus e deveria ter mais o que fazer ao invés de JULGAR os outros pelo tipo de transporte que eles usam. Ou julgar alguém como pobre porque bebe água ao invés de refrigerante/suco, ou porque não usa uma roupa com um jacarézinho ou um jogador de pólo...

Quando surgiram as primeiras manifestações no Brasil pelos transportes públicos, sinceramente eu achei a maior piada porque justamente as pessoas que reinvicavam no meu facebook eram justamente aquelas que NUNCA pegaram um ônibus na vida, que desde os 18 anos tinham carro e que nem iam à faculdade se o pneu furava ou se tinham outro problema, onde já se viu "classe média se misturar com pobre"?
Acho que no Brasil um dia a classe média pode vir a andar de transporte público se proibirem a entrada de pobres, negros, índios, nordestinos... O pessoal não quer se misturar!

Se eu não preferiria andar de carro?

Um carro é importante quando se mora em um local de difícil acesso e com transportes limitados, o que sei que acontece em muitas localidades do Brasil, mas também aqui na Europa quando se sai dos grandes centros urbanos.
Igualmente quando os deslocamentos são longos e não tem hora marcada para terminar (reuniões e festas com amigos, famílias) e com crianças pequenas.

Mas outras coisas me chocam no Brasil:

- Nunca saio de casa sem uma garrafinha de água na bolsa e aqui na França é muito comum. No Brasil as pessoas acham que é coisa de pobre que não pode pagar o preço de uma água na rua;
- Se vamos ao restaurante e pedimos uma água mineral ou nada (afinal sempre aprendi que deveríamos beber antes ou depois das refeições, não durante), as pessoas acham que é por economia;
- Se você decide levar comida fresquinha de casa, feita de forma saudável para não comer em restaurante ao meio dia, é visto como um pobre-coitado que não pode se dar ao luxo de ir ao restaurante;
- no Brasil se levamos nossa comida à praia somos farofeiros, na Europa é normal sair de casa com o pique-nique.

Em resumo, o brasileiro se preocupa muito com a vida dos outros!

(a idéia desse post surgiu a partir da polêmica  sobre a atriz Lucélia Santos andando de ônibus: http://diversao.terra.com.br/gente/lucelia-santos-desabafa-apos-ser-flagrada-pegando-onibus,9b64a16a20db4410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html)

16 comentários:

Morena da Mata disse...

Olá, Milena! Tudo bem? ^^

Adorei te ver andando de ônibus! Por mim, eu não teria carro (o IPVA esse ano veio de lascar!), se o transporte público fosse ampliado, seguro e eficiente. Como não é nada disso, eu procuro ao máximo andar a pé... ou de carro mesmo.
Dirigir, ainda mais num trânsito caótico desses daqui, exige muito do ser humano ao volante. Por outro lado, também é ultra estressante ir pra algum lugar numa lata de sardinha cheia de estranhos obrigados a se esfregarem o tempo inteirinho durante os longos engarrafamentos (você soube da polêmica dos "encoxadores"?), tendo que se equilibrar segurando numa barra de metal imunda, suar como desgraçados e ainda correr riscos de assaltos e outras violências (enfim, vc sabe do que estou falando...).
Acho e sempre achei muito babaca quem fica classificando os outros pelo transporte que pode ou que prefere usar... Mas é a nossa realidade, numa cultura onde ser pobre parece pior do que qualquer outra coisa no planeta.
Falta educação de qualidade no Brasil para transformar esse tipo de pensamento e até melhorar o deslocamento público... Sonho e luto para que, um dia, a gente consiga evoluir um pouquinho mais (mesmo que eu já não esteja por aqui quando esse momento chegar).

Beijooooos!

M.

http://caseicomomundo.blogspot.com.br

Eve disse...

Outro dia tinha uma campanha no facebook: país rico não é aquele que tem carro, mas aquele em que todos possam andar de transporte público.
Em algumas regioes do Brasil, o transporte público é quase nulo.
Por aqui, as coisas são mais fáceis, ando de metrô pra cima e pra baixo e não vejo nenhum problema em ser farofeira. rsrsrsrs
Pena que tem gente que não entende.
Bjs!

Andréa de Azevedo Freitas disse...

Olá Milena, tudo bem? Comecei a acompanhar seu blog há poucos dias e estou gostando muito das suas colocações. O que você diz sobre andar de transporte público é absolutamente verdade. Faço todos (ou quase todos) os meus trajetos de ônibus e metrô. Quando a coisa aperta uso o táxi, que não deixa de ser público, pois é um carro compartilhado por várias pessoas ao longo do dia. Teremos mais adesões ao transporte público quando os gestores forem mais eficazes e a população mais educada, pois há muitos engraçadinhos que se aproveitam da hora do rush pra se encostarem nas mulheres.

Lucy disse...

Oi Milena, Sigo seu blog do qual gosto bastante. Interessante esse post sobre a visao brasileira do transporte. Eu morei em POA durante 4 anos qd tinha 18 anos. Nessa época eu pegava ônibus pq era pobre. Hoje nao sou rica (nem quero ser :-)), mas vivo bem confortavelmente aqui. E pego ônibus,metrô e vou de bicicleta ao trabalho e me sinto orgulhosa em poder fazê-lo. E vejo que vc tb :-)) Se continuar assim vou convida-la pra entrar na associaçao pra qual trabalho : Fédération Nationale des Associations d'Usagers des Transports ! Boas andanças !

Anônimo disse...

Oi, Milena. Estou de acordo com tudo o que vc disse, brasileiro (sem generalizar, claro! tem as exceçoes) é muito classista e gosta de ostentar. Eu sempre andei de transporte público tanto no Brasil como agora no Canada e foi aqui que eu adotei a marmita, levo para todos os lugares, no Brasil eu recebia vale-alimentaçao e minha alimentaçao era praticamente junk food de praça de alimentaçao. Estava vendo uma reportagem que o prefeito de SP criou faixas exclusivas para ônibus e a galera caiu matando, quase pediram o impeachment do homem pq piorou o transito para quem anda de carro. As vezes penso que a qualidade do transporte no BR nao é culpa só dos políticos nao, a classe elitista quer barrar todo projeto que visa a melhorar a mobilidade urbana.

Camilla disse...

Tô na turma que acha um absurdo ser olhado torto por andar de transporte público. Mas, por outro lado, concordo que o transporte no país vai de mal a pior e não dá pra culpar também quem não troca o conforto do carro. : /

Beijinhos querida!
http://www.mademoiselleparis.com.br/

vievivi.blogspot.com disse...

E ultimamente aqui no Rio, principalmente nas periferias, aconteceu uma explosão de proprietários de carros,um horror isso. Eu quando tinha carro, nunca deixei de andar de ônibus, nunca liguei pra esses "julgamentos"
e sei que me cobram, me acham estranha, me perguntam pelo carro...e nem estou aí. Tem sido um descanso não me preocupar com seguros,IPVA,sequestros,vistoria, multas, aff Quando muito necessário, eu alugo.Aqui no Brasil com carro ou sem os deslocamentos são difícieis.

Inaie disse...

Oi Mi, eu sou o avesso dos seus habitos civilizados. Não sei se é por falta de habito, por preguiça ou por que...
O problema do transporte publico no Brasil ( ou pelo menos era) a falta de segurança e de horários confiáveis. Eu me lembro que quase tive um infarte quando descobri que os onibus na Australia tinham horário - e passavam no horário combinado.
Me lembro de tomar onibus para ir para o colegial em campinas e várias vezes ser assediada e outras vezes até seguida. Passei alguns maus bocados por lá.

Quanto á garrafinha dágua, eu não gosto de carregar peso. 500 ml - meio kilo a mais...e eu sou muito preguiçosa pra isso.

Mas não me entenda mal - eu não sou de forma alguma contra as práticas, acho até muito mais convenientes. Já passei muita fome e sede por não encontrar alguma coisa decente para comer ou um lugar que vendesse água. principalmente em parques e praias da Australia e NZ!

Natalia Itabayana disse...

Assino embaixo, Mi!

Tive moto no Brasil e durante 3 anos foi meu meio de transporte pra ir à faculdade e trabalho. Me arrependi quando comprei o carro, fiquei feliz quando vendi. Meu marido nunca comprou carro no Brasil, usou ônibus durante os 5 anos de faculdade, e so pegou emprestado carro quando foi trabalharem Juiz de Fora - não quis comprar porque ja sabia que viriamos pra ca, e não fazia a menor questão de comprar carro sendo que eu ja tinha um. Meu cunhado segue a mesma linha - aos 26 anos, não faz a menor questão de tirar carteira de motorista, e circula em BH so de ônibus.

Por aqui, uso muito bicicleta pra ir à faculdade quando as aulas eram em Aix (e bus pra Marseille), médico e até pra compras no mercado. Agora moramos mais perto do centro e não precisamos mais ir de carro como fazíamos, bus para por volta das 20h aqui, não dava pra gente ir pra balada e voltar pra campagne à pé. Só comecei a usar carro por causa do estagio/trabalho, e quando posso sempre privilegio a carona, acho um saco dirigir todo dia. Meu marido trabalha longe e tem de ir de carro porque não tem bus pra la, além de precisar do carro pra circular dentro da usina.

Todas as minhas visitas usam bus por aqui, mas nunca andam de bus no Brasil. Em novembro passei uma semana em BH e como boa turista, fui andar de bus porque achei o fim da picada meus sogros darem uma volta gigantesca na cidade pra levar no local de encontro com amigos, e também não achei nada a ver minha mãe sair do trabalho pra ir me buscar e levar ao tal local. Imagina a reação! Eu logo repliquei: vocês usam transporte publico na França como turistas. Pois bem, eu, como turista no Brasil, reinvidico meu direito de usar transporte publico. Cheguei antes de muita gente no destino.

Eliana disse...

Muito pontual suas colocações, Milena. Eu nunca tive carro, sempre me virei de metrô, ônibus e táxi quando era necessário, já que os ônibus não tinham horários certos. E, realmente, as pessoas julgam o tempo todo. Até os meus tios que já não precisam pagar pelo transporte por conta da lei que favorece o idoso, acham que isso é para pobres. Tem gente que não sai de casa se não for de carro. Pior ainda é agora, pois olham torto pra mim e pra marido que reviramos SP de busão e metrô. Acham que o gringo deve ser pobre! hahahaha E quando aproveitamos toda programação grátis cultural da cidade? Fomos uma semana inteira no cinema (que aliás estava vazio) porque tinha uma mostra de filmes grátis. Vai ver que o povo não foi porque pensa que gratuidade é ruim. Pobres de espírito, isso sim! rs

Gabriela disse...

Mi,

Então, complicado isso do ônibus!! durante 10 anos usei ônibus como meu meio de transporte...e nunca me senti inferiorizada ou discriminada por isso...digo, meus amigos nunca acharam que eram melhores ou me julgaram pelo transporte que usava....moro em Brasília em uma área considerada "nobre" e vejo que muitas pessoas os utilizam também, porém, confesso, que não era nada agradável nunca saber que horas, ou se o ônibus ia de fato chegar...fora a insegurança... fui assaltada diversas vezes no trajeto faculdade/parada de ônibus...estagio/parada....desde de 2008 me rendi ao carro...queria muito poder utilizar a bike como alternativa, entretanto a insegurança me desmotiva...acho que a cabeça das pessoas estão mudando em relação a isso, pelo menos no circulo em que convivo percebo isso facilmente...Meu marido que é Francês e está há dois anos morando aqui...bem que tentou adotar o ônibus...mas acabou desistindo quando se deu conta que não existe horário para eles passarem, além da forma como os motoristas dirigem os ônibus...acabamos por compartilhar o carro...espero sinceramente que possa voltar a me sentir segura suficiente para utilizar a bike como meio de transporte alternativo!! bjo pra tu

Gabi

BLOGZOOM disse...



Milena,

Concordo com a sua indignação.
Eu sou tambem discriminada por usar transporte publica. Bom, como comprar um carro tao absurdamente caro num país absurdamente caro de se viver e com um salário que não acompanha os elevados custos?! Não dá mesmo.

Os ex-pretendentes a namorados sempre perguntavam - quer dizer que não dirige?! Soava com um jeito desagradavel.

Assim como sei que amigos/as e parentes não me chama para nada porque não tenho carro, seria uma "mala" a ser transportada após um jantar ou outra programação.

Lamento que o transporte publico do Rio de Janeiro seja tão ruim. Tiraram as vans e prometeram mais onibus. Mentira. Não colocaram. Então, para ir embora, pego filas enormes... um saco mesmo, mas não posso usar taxi, o trajeto seria uma punhalada no orçamento mensal.

Bjs

Anônimo disse...

Amei o seu post, me identifiquei totalmente e assino embaixo de tudo o que você escreveu. Também fiquei boquiaberta com essa notícia sobre a Lucélia Santos, mas depois me dei conta de que essa era mesmo a reação de se esperar dos brasileiros... (Reparou que a primeira notícia saiu com "A atriz foi flagrada usando ônibus", como se usar transporte público fosse errado?)

Antes de me mudar para Montréal, eu morava em Brasília, uma cidade construída para carros, onde o transporte público é praticamente inesistente. No entanto, eu morava bem perto do meu trabalho e havia um ônibus que passava em frente à minha casa e me deixava em frente ao meu trabalho. Então eu ia e voltava de ônibus normalmente, todos os dias.

O pessoal achava um ABSURDO eu, sendo servidora pública, ser "murrinha" a ponto de não comprar mais um carro. Sim, mais um, porque eu e meu marido éramos obrigados a ter um carro porque ele sendo professor, precisava se deslocar de uma escola à outra em regiões praticamente não-servidas por transporte público. As pessoas achavam um absurdo só termos 1 carro para uma família de 2 pessoas! É mole?

Aqui em Montréal é uma beleza, o metrô e os ônibus são super pontuais, eu chego aonde quero e não sou mais prisioneira dessa história de procurar vaga, pagar estacionamento, IPVA, mensalidade, seguro, gasolina poluidora... Liberdade total! Espero sinceramente que um dia pelos menos as cidades médias e grandes brasileiras consigam ter um sistema de transporte público desse nível...

Abraço,
Lidia.

Virginia Souza disse...

Oi, Milena! Vc tem toda razao! No Brasil as pessoas se preocupam demais com a vida dos outros! Moro na Italia e aqui tb fazemos tudo que vc descreveu no ultimo paragrafo! Muitas vezes até pessoas de boas condiçoes fnanceiras o fazem, é completamente normal e aceitàvel! Eu mesma adoro fazer pic-nic!!!! Vamos deixar de preconceito, brazucassssss!!! Bjs!!!!

RENATA RZ disse...

Olá
Conheci seu blog hoje e adorei!
Resolvi comentar aqui porque compartilho da mesma filosofia, apesar de andar de carro também.
Parabéns!
Renata
http://dicasgreen.blogspot.com

Andréa de Azevedo Freitas disse...

Tenho um nível de vida mediano e poderia, perfeitamente, almoçar fora todos os dias em que trabalho. Por uma questão de controle da alimentação e economia de dinheiro prefiro acordar mais cedo e produzir minha marmita. Dificilmente acharia em um restaurante na rua os alimentos que escolho e preparo conforme desejo. Ainda levo frutas e iogurte, pros intervalos, pois tenho tendência para engordar e comer a cada 3 horas estimula o metabolismo. Resumindo: carrego uma bolsa só com meu farnel. Quando vou resolver algum problema na rua levo algo pra comer, da mesma forma, pois não saio da rotina. Uso transporte público, leio os jornais distribuídos gratuitamente no metrô e compro roupas de lojas de departamentos, sem nenhum problema. Com o dinheiro economizado posso viajar e fazer coisas impensáveis para os meus amigos, sufocados por cobranças de prestação de carro, seguro e IPVA. Tenho certeza que faço a melhor opção. Quando a coisa aperta, pego um táxi, que por ser eventual, não sobrecarrega meu orçamento.