domingo, 2 de março de 2014

Eu já não sou mais a mesma

Hoje estou com 34 anos. Quem diria que o tempo passaria tão rápido assim!

 Maranhão, 1983                                                   Marrocos, 2014

De vez em quando me pego a pensar que tipo de pessoa eu seria se a minha vida tivesse seguido um outro rumo e eu ainda morasse no Brasil. Certo, nasci e cresci lá, foi no Brasil que vivi a maior parte da minha vida, mas tenho certeza que esses anos vivendo fora foram ainda mais fundamentais para a consodalização da minha personalidade.

Eu já fui muito fechada, tímida, mais difícil de lidar e de agradar. Acho que o tempo vai nos ajudando a relativizar as coisas, mas acredito que o que me fez mudar realmente foi morar fora.

Tive que abrir mão das minhas centenas de livros que ficaram lá na casa dos meus pais, um quarto inteiro de livros (de psicologia, de literatura, de tudo), de muitos sapatos que adorava e que aqui não me são de nenhuma utilidade e de roupas. Eu que antes era tão apegada aos meus amados "bens materiais", hoje não sinto (praticamente) nenhuma falta deles, posso muito bem viver sem.

Sempre gostei do Brasil e fui muito feliz lá, mas é engraçado que hoje, quando volto ao Brasil, já me sinto uma "estrangeira" passeando pelas ruas e lugares que antes me eram tão familiares... olhando tudo com olhos de estrangeiro.  Mesmo se na casa dos meus pais (onde morei por 28 anos) meu quarto tenha fica intacto, hoje me sinto uma visita. Nesse meu antigo quarto, com meus antigos objetos, é como se nada daquilo nunca tivesse me pertencido! Pertencem a uma outra época, eu diria mesmo a uma outra vida e a uma outra pessoa, aquela que eu fui um dia e que não sou mais. Um ano depois eu já não me identificava mais com tudo aquilo.
Praça da Alfândega, julho de 2013.

Algumas pessoas me olham atravessadas quando digo que onde me sinto realmente em casa é na minha casa, aqui na França, país onde resido há pouco mais de 5 anos.

E também aprendi a compartilhar... Antes tinha dificuldades em dividir o espaço, roupas e maquiagem com minhas irmãs, atualmente não vejo nenhum problema em emprestar. Aprendi com quase 30 anos (não sem dificuldades!) a dividir o mesmo teto (a mesma cama e o mesmo banheiro!) com uma pessoa completamente diferente de mim e que na época eu conhecia tão pouco.

Eu que cresci no meio do mato, rodeada de plantas e animais, hoje me alegro de viver na "cidade grande", perto de tudo e com fácil acesso a tantas coisas que durante muito tempo estiveram tão longe da minha realidade.

Se eu tivesse que viver tudo de novo, provavelmente teria feito as mesmas escolhas.

10 comentários:

Armoire de petits et grands disse...

Mi, essa essência nos define, revigora, embeleza... Feliz por vc ! Bodas é so para complementar !
beijos,

vievivi.blogspot.com disse...

Oi Milena,me atrevo a dizer que você seria essa mesma pessoa, tenho a impressão que depois dos 30 nossa essência fica mais aflorada,e você no fundo já era quem você é,talvez vivendo em Paris isso tenha acelerado e as oportunidades (viagens, trabalho, casamento) não tenham sido desperdiçadas.

Tatiana disse...

Parabeeeeeens Mi!!! Tudo de bom querida, tenho certeza que teu dia foi o máximo com teu amor!!!!
Nossa...como te entendo,imagina eu depois de 21 anos?
Muitas vezes nem comento muito sobre isso, por causa dos olhares atravessados...rs..
Bjks! Adorei o post e você, muito fooofa!!!!

Liza disse...

Esse teu post faz a gente pensar.

Quando moramos fora do Brasil o unico jeito é amadurecer e se adptar (ou entao voltar). Eu tambem mudei muito e quando vou la tb me sinto um pouco turista, nao acredito que voltaria a viver lá depois de 9 anos fora. E so de pensar que antes eu nao me imaginaria fora daquele 'meu' mundinho.

Adorei tuas fotos de antes e depois, linda nas duas!!

Beijao

Helô Righetto disse...

concordo, me sinto assim também. e parabens!!!

Beth Blue disse...

34 aninhos? Eu podia quase ser sua màe! Brincadeira, rsrsrsrs. Engraçado que também saí do Brasil com 28 anos...só que no meu caso moro no exterior há 20 anos!!! Entreguei a minha idade, hehehe.

Quanto a sensação de se sentir estrangeira no Brasil, já me sentia até quando morava lá, de certa forma. Mas embora eu tenha adotado alguns hábitos e costumes holandeses (os que aprecio), com o passar dos anos me sinto cada vez mais brasileira aqui! Culpa do meu temperamento latino mesmo, nunca me encaixei nesse aspecto aqui :-(

BLOGZOOM disse...

Querida Amiga,

Parabens!
Pelo seu aniversario
e por sua evolução pessoal.

Compreendo muito o que quer dizer, visto que saí de casa cedo, alias, minha mãe que me mandou ir em frente (coisa de estrangeiro... ela é alemã). Quando disse "Pertencem a uma outra época, eu diria mesmo a uma outra vida e..", é esquisito, mas é assim que me sinto tambem.

É um amadurecimento.

E quanto a aprender a dividir, aconteceu o mesmo comigo.

Muita paz e felicidades para vc!

Bjs

Bia disse...

O tempo, as viagens, pessoas... São tantas coisas que nos fazem ver o mundo diferente, não é mesmo?! Mas claro que isso não teria acontecido se vc não tivesse a mente aberta, disposição para aprender coisas novas. E a melhor parte, é que vc se sente em casa exatamente aonde mora, senão a saudade seria muito dolorida....

Natalia Itabayana disse...

Mi, to escrevendo o "bilan" dos meus 4 anos aqui e os sentimentos são compartilhados com você. Me sinto sim estrangeira no Brasil, visita na casa da minha mãe, e minha casinha é o melhor lugar do mundo, por mais que eu ame viajar. O desapego foi incorporado a duras penas, mas hoje é algo cada vez mais natural e menos criador de desentendimentos. O importante, no fim das contas, é estarmos em paz com nossas escolhas.
Felicidades!

Eve disse...

Parabéns!
Bela reflexão.
Acho que todo mundo que fica feliz com suas escolhas, pensa como vc. Nossa casa é aonde nosso coração está. E a adaptaçao faz parte disso, né?
Beijos!