quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Atentado em Paris: entre liberdade, adaptação e escolhas

Ontem foi um dia muito triste aqui na França, os franceses estão horrorizados diante de tanto ódio e violência. 

Esse blog não é político e até evito de entrar nesse assunto por aqui para não ser mal-interpretada, mas a liberdade de imprensa, do humor e a liberdade por si só é sagrada! 

Tem sempre alguém que critica a França com base no seu passado colonial, mas há muito tempo se trata de um país de liberdade que acolhe refugiados do mundo inteiro. Ninguém aqui é impedido de exercer a sua religião, existem lugares de culto para tudo que é crença. 
Todo mundo tem direito à escola, as universidades são gratuitas, existe "bolsa-familia" e ajuda para tudo que é tipo de problema e dificuldade financeira. 

Em uma das escolas em que trabalha o meu marido (bem no centro de Paris e a alguns quarteirões do atentado), as crianças falam 60 linguas diferentes e recebem uma educação de muito boa qualidade.

Para muitos brasileiros que não vivem aqui na França talvez seja difícil de entender o posicionamento do tal Jornal, mas o que é bom saber é que não é imprensa sensacionalista, mas sim um jornal de qualidade, inteligente e muito respeitado. Mesmo se não concordo com tudo o que eles faziam (não tenho humor nenhum), felizmente ainda existem alguns jornais assim, pois imaginem de todo jornalista/desenhista/caricaturista/artista não dissessem o que pensam por medo de represálias?

Inclusive eu sempre insisto que muitas reportagens vindas de países extremistas são totalmente tendenciosas, pois justamente muitos jornalistas, por medo (ou falta de opção, vai saber), mostram apenas um lado da história, como criancinhas feridas gravemente ou mortas, para penalizar o mundo inteiro para a sua causa.

Estou aqui na França há 6 anos e posso dizer que como estrangeira nunca sofri nenhum tipo de discriminação direta. Isso nunca me impediu de estudar, de trabalhar, de ser promovida. 

Vejo tantos estrangeiros (ou filhos/netos de) que se vitimizam e se consideram discriminados por tudo. Uma colega afro-descendente repetia que não era promovida porque era negra, mas na verdade o trabalho dela era muito ruim, ela cometia erros básicos TODOS os dias e a chefia não podiam confiar nenhuma tarefa importante para ela, pois ou ela não fazia, ou fazia mal. Promover uma pessoa assim?

Igualmente uma outra colega de origem estrangeira (hoje ela tem a nacionalidade francesa, mas nasceu em outro país) se sente vitima de tudo e acha que as pessoas não gostam dela porque ela tem um sotaque muito forte. Mas ninguém gosta dela porque ela é fofoqueira, inventa história, e ainda chora e faz crise por tudo! Ela tem fama de "chata" e por isso ninguém a suporta, não tem nada a ver com o fato de ser estrangeira.

Muitos que chegam aqui, independente de onde vieram, se isolam, não aprendem a lingua corretamente e desta forma vivem às margens da sociedade. Outros, felizmente, se esforçam bastante a se incluirem nessa nova sociedade. Eh fundamental aprender a língua.

Entendo que para quem chega aqui adulto pode não ser nada fácil, mas então deve ao menos haver uma vontade de se integrar se eles realmente têm a intenção de viver aqui, e acima de tudo uma grande preocupação para que os filhos se integrem nessa sociedade e falem corretamente a língua.

Minha receita? Aprender a lingua, interessar-se pela cultura e história do país em que vivemos e evitar de viver fechada no meu mundinho, ou seja, abrir-se para os outros, independente da origem de cada um. Isso passa até por abrir a boca e provar tudo que é tipo de comida (posso participar de qualquer almoço de trabalho ou seminários na empresa, posso ir jantar na casa de amigos judeus ou muçulmanos, como muito bem nas casas dos franceses, posso ir a um restaurante vegan com amigos ecologistas e nem por isso sou menos gaúcha!), pois acreditem ou não a disparidade também passa pelo estômago!

E a melhor arma conta o preconceito, contra a exclusão e contra  a diferença é estudar. 

Entendo que em muitos países (inclusive no Brasil) estudar é um luxo ao qual poucos têm direito, mas não é o caso na França, então esses terroristas não têm desculpa nem nenhuma justificativa..

Ninguém tem o direito de realizar um atentado contra a expressão, contra a arte, a cultura, os risos, a vida.

7 comentários:

Marta Faustino disse...

Muito bem dito (escrito)! Beijinhos e um excelente ano de 2015.

Ana Maria Brogliato disse...

Oi Milena, tenho acompanhado as notícias sobre o atentado, é triste demais tudo isso.
Muito bem posicionado o seu texto!
beijos
www.viagensebeleza.com

Jackie disse...

Oi, Milena:

Espero que esses dias turbulentos passem logo e que a bela França se levante desse baque o mais breve possível. Tal barbárie é estarrecedora e não podemos esmorecer diante do atentado à expressão e à discussão de ideias, assim, peço emprestadas as suas palavras: "a liberdade por si só é sagrada".

Você levantou questões muito importantes no seu texto e concordo muito com você quando diz que não devemos viver no nosso mundinho. Como expatriada e como professora de português para estrangeiros, sei que mergulhar sem medo em outra cultura e se dedicar ao estudo e trabalho são fundamentais para o sucesso no exterior. Entretanto, devo admitir que ser casada com um nativo facilitou, e muito, a adaptação e, sobretudo, a aceitação em grupos nativos. No meu caso, percebo bem a diferença de tratamento quando digo que sou casada com um cidadão do país,é como se você realmente fizesse parte do grupo, sabe?

Não podemos negar também que a Europa está imersa num mar de xenofobia e já faz alguns anos que a França tem sido protagonista de questões polêmicas quanto à imigração de africanos e europeus do leste, por exemplo. Embora a nação francesa venha avançando continuamente na elaboração de medidas para melhorar a qualidade de vida dos imigrantes, como você bem colocou no seu post, o dia a dia de imigrantes oriundos de países muito pobres ou de cultura e religião diferentes do mundo ocidental não deve ser muito fácil. Certamente, eles devem ter tristes histórias para contar, pois dependendo do background, cultural e das condições sociais, as histórias de imigração são bem diferentes. Não dá para colocar todo mundo na mesma caixa, não dá para comparar, por exemplo, a vida de um pós-graduando brasileiro branco na França e um imigrante argelino negro que tenha que aceitar o trabalho que os franceses não querem.Na prática, o preconceito existe.

Felizmente, tive a opção de imigrar , logo, o processo de adaptação foi mais fácil e já cheguei ao exterior com sólida formação acadêmica e com condições financeiras de seguir minha vida sem grandes preocupações. Contudo, para muitos, imigrar não uma questão de escolha, mas sim de sobrevivência. Portanto,quanto ao caso das suas colegas, acho delicado individualizar os casos de má adaptação, pois não estamos na pele do outro para saber o que ele vive e, assim, não podemos julgar suas atitudes e as queixas de preconceito.Como indivíduos, somos muito complexos, mas não dá para ignorar que o preconceito existe, ainda que nos pareça invisível.

Desejo a você um ano de muito trabalho e com viagens maravilhosas, pois você merece tudo isso.

Um abraço,

Jackeline

vievivi.blogspot.com disse...

É verdade, as pessoas em vez de ultrapassarem desafios ficam se vitimizando, mas não há mesmo justificativas nenhuma pra esses terroristas, só fiquei triste pelo fim com tantos inocentes mortos, os reféns, poderiam esperar um pouco mais,não sei...fico pensando se não teria um gás que derrubassem todos por uns segundos e então pegá-los vivos e salvar os refens, poxa!! matar refém é o fim...embora tenham dito que foram os terroristas...Uma pena....Dias Melhores para os franceses e vsitantes.

Anônimo disse...

Oi milena, acompanho seu blog faz um tempo e é a primeira vez q comento. Gostaria que vc me desse umas dicas. Estou pensando em imigrar para a frança.sou,formada em psicologia como vc. tenho um namorado frrancês e acabei engravidando dele e ele quer que eu vá pra aí formar uma família. Só que muito me preocupa a questão do trabalho.não falo nada de francês pretendo começar um curso por aqui antes de ir mas como é para um estrangeiro se inserir no mercado de trabalho francês? Não gostaria de ir pra frança para trabalhar em subempregos pra viver acho q acabaria não me adaptando embora tb não me importe em trabalhar em outras áreas q n sejam ligadas a psicologia. Tb não quero ficar dependendo dele . Eu conseguiria arrumar um trabalho só com diploma daqui do brasil ou seria mais fácil tentar um mestrado e ao fim dele conseguir um trabalho condizente? Obrigada

Milena F. disse...

Oi leitora, entendo muito bem as suas questões. Pela minha experiência e observação o mais importante para se adaptar e conseguir um bom emprego sera domin ar a lingua. Acredito que uma das formas mais eficazes é estudar aqui mesmo. Existem cursos intensivos muito bons por aqui, e vc estarah imersa na cultur, o que facilita. Para atuar na Psicologia ou areas afins, melhor mesmo estudar aqui (um mestrado ou algo do tipo), caso contrario fica bem dificil, sem um diploma local e sem os "contatos" para saber como funciona o mercado. Tudo depende da sua "pressa". Pode vir com a intenção de estudar algum tempo (enquanto ele se encarrega das despesas) e dar duro para se inserir no mercado apos desse prazo que vc mesmo se deu. Seria uma etapa. Geralmente soh com um diploma do Brasil (psicologia, cuja profissão é regulamentada na França)e sem falar muito bem o francês, acabam sobrando empregos considerados mais simples, como trabalhar no comércio/hotelaria/restaurantes, recepcionista e por ai vai.
Boa sorte

Anônimo disse...

OI Milena!! Concordo plenamente com você! Acho que quem quer viver em um país tem que se adaptar as suas leis e cultura e não o contrário. Pelo que conheço da França, os muçulmanos tem plena liberdade de expressar sua crença, com mesquitas em todos os cantos e possuem os mesmos direitos que qualquer cidadão francês. Realmente, NADA justfica o terrorismo.

Bjs Vivian