sexta-feira, 16 de maio de 2014

Para quem vem morar na França (ou já veio e ainda tem muita coisa para descobrir)

Todos os dias me deparo com questões, dúvidas e debates sobre a França da parte de brasileiros que pretendem morar aqui ou que aqui estão e continuam tendo dúvidas. Hoje vou tentar discorrer sobre os últimos assuntos levantados e que sempre voltam!

- Recentemente algumas meninas comentaram que eram enganadas nos comércios. Se do meu ponto de vista é raro, temos que tomar alguns cuidados quando não conhecemos as práticas ou não dominamos a língua:

1. Na hora de contratar um frete para um produto comprado (móvel, eletrodoméstico), se morar em apartamento é necessário informar o andar e se tem elevador. O preço é calculado em cima disso e se as informações dadas forem incorretas ou incompletas, você corre o risco dos entregadores deixarem sua geladeira no hall do prédio, pois não estava previsto subir até o 2º andar!

2. Na hora de fazer uma compra, fique atento ao seguro ou garantia estendida que é sempre uma OPCÃO, mas que muitas vezes podem ser vendidas como se tudo fosse um "pacote" e o cliente acaba achando que é obrigatório. Vale lembrar que alguns seguros são importantes (viagem, etc.), mas é bom ler atentivamente as cláusulas para não comprar algo inútil! Uma amiga me disse que acabou comprando sem perceber o seguro para os óculos de grau, o que não seria necessário no seu caso pois seu plano de saúde pagaria um novo em caso de problemas. E a minha sogra fez 2 seguros para pagar o enterro, nos dois bancos onde ela tem conta, sem se dar conta que ela só vai morrer uma vez e o segundo seguro é inútil. Comprei uma viagem e recusei de todas as formas o seguro (pois já tenho um), e quando ligaram para confirmar, a menina ainda insistiu com o meu marido que eu tinha recusado o seguro sem dúvida por não ter me dado conta da importância, querendo ainda convencê-lo!
se comprar o seguro, leia bem as cláusulas!

3. No momento não me ocorrem outros "abusos". Fora isso, o que gosto aqui é que a gente paga o preço que está afichado e nada a mais!!! Pode ser o de um jantar ou uma passagem/viagem, as tais taxas (de garçon, couvert, de aeroporto) já estão inclusas, não tem surpresas na hora de pagar a conta.

- Segurança: mesmo se os problemas relacionados à (falta de) segurança têm aumentado nos últimos anos, ainda está longe dos dados alarmantes do Brasil, e isso mesmo levando-se em conta que o Brasil é muito maior em extensão e em número de habitantes. Existem aqui roubos de casas e de veículos, e se deixar alguma coisa de valor "dando sopa" visívelmente em um carro estacionado, o risco de quebrarem o vidro para roubar  é altíssimo. A diferença é que aqui os roubos são ainda (normalmente) sem violência à pessoa, e os seguros pagam os danos materiais. Por exemplo, em uma das minhas viagens, um casal de franceses recebeu a informação de que a casa tinha sido arrombada. O seguro pagou a passagem de volta, eles tiveram a viagem reembolsada e os artigos roubados. Não ficaram desesperados nem traumatizados, para eles não foi o fim do mundo.
No dia a dia, meu marido sempre me fez seguir estritamente algumas regras: optar pelos vagões de metrô e trem com outros passageiros, nunca vazio ou com pessoas duvidosas (já houve casos de agressão, mesmo se é raro), esperar os trens longe dos trilhos (já houve casos de empurrões). Evitar de mostrar objetos de valor ou telefones de valor em locais públicos. Infelizmente mulheres são as vítimas ideais.
Não me considero uma pessoa inconsequente, até sou meio paranóica segundo alguns, mas aqui saio a qualquer hora do dia ou da noite em transportes públicos e não tenho medo algum. Temos que parar de confundir probreza e diferença com violência. Não é porque o metrô ou bairro está cheio de estrangeiros originários de países pobres que são bandidos.
Tenho visto também que brasileiros têm uma imagem bem negativa dos chineses. Aqui na França turista chinês é rei (estão em grande quantidade e gastam bastante), junto com os russos. O reinado dos japoneses acabou e quem sabe a dos brasileiros vai chegar em breve. E quanto aos imigrantes chineses, estão entre os mais "adaptados", não causam problemas, não fazem "barulho", trabalham, as crianças trabalham bem na escola. Uma crítica a eles é que não se misturam muito com outros grupos étnicos, se casam entre eles, só dão empregos para chineses (são bem empreendedores). Fala-se de uma máfia chinesa, como uma tal pirâmide de "ajuda mútua", auxiliando financeiramente para abrir um negócio, o que faz que eles não passem por financiamentos bancários, e por isso os chineses estariam comprando tudo e invadindo tudo!

Não é fácil morar fora, e algumas pessoas realmente não conseguem se adaptar, sofrem muito não apenas com a ausência da família, mas também com com os hábitos e costumes e se sentem mesmo infelizes. Participo de grupos de brasileiros na França e tenho a impressão que sou uma das únicas felizes aqui com a vida que eu levo, mesmo se como tudo na vida existem altos e baixos. Mas faz parte da natureza humana nunca estar satisfeito do que se tem, e vivendo aqui a gente acha que a grama é mais verde no Brasil, e vivendo lá a gente vê que o pensamento é inverso, com tantos brasileiros reclamando de tudo e de todos (falta de segurança, transporte, saúde e educação precárias, corrupção, e tudo isso pagando impostos altíssimos).

Eu fiz a escolha de ser feliz AQUI e AGORA com o que tenho pois para mim o único tempo que conta é o presente. Não adianta passar todo o momento presente chorando o passado que não existe mais ou sonhando com o futuro (curtir a aposentadoria no Brasil) que ainda está longe, desperdiçando anos preciosos da vida.

E não pensem que é uma escolha fácil a de ser feliz onde muitos não conseguem e essa marca de ser aquele "do contra", o "traidor" que faz e vê tudo diferente dos outros vai sempre nos distinguir perante os outros compatriotas.

7 comentários:

Morena da Mata disse...

Oi, Milena!

Adorei sua postagem! Sempre esclarecedora e inteligente!

Pessoas (e empresas) espertas tem em todo canto e os menos avisados acabam deixando passar certos truques. Percebi que a qualidade de vida aí é mesmo significativa: se a casa é roubada, os cidadãos estão seguros de todo lado para recuperar os danos; não há aflição. Essa paz é o que vale (estou escrevendo um post sobre os problemas que o povo em Recife passou esses dias com a greve da PM, clima de terror, tanques de guerra nas ruas...).
Enquanto estive passeando pela Europa há dois meses, eu realmente fiquei me questionando se seria melhor pra mim viver em algumas das cidades que visitei. Sei que morar e passar são coisas completamente diferentes, mas é sempre válido para se ter um gostinho da coisa toda e tomar melhores decisões. Conheci duas moças (que não se conhecem entre si) há alguns anos que, cada uma, se mudou de mala e cuia para Paris, venderam tudo aqui e moraram aí por dois anos. Não aguentaram e voltaram pro Brasil. Eu as admirei pela coragem e as compreendi. Elas foram felizes por um tempo... e quando não estavam mais contentes, mudaram de novo. O que vc disse sobre sua escolha de ser feliz no presente é uma lição muito valiosa.
Beijos!
M.
caseicomomundo.blogspot.com.br

Eliana disse...

Pois é, Milena. Até a "violência" é menos traumática. Claro que por aqui há certos acontecimentos que chocam, mas são raros e isolados e tudo tem um quadro. Não se escuta que fulano morreu porque não entregou o celular, ou se recusou a entregar o par de tênis. A futilidade dos crimes no Brasil é que assusta. Perde-se por tão pouco. Sem contar que as drogas são um grande problema social. Não é só a pobreza a única vilã.
Sim, tem gente que vem e não se encontra, não se acostuma, mas tenho pra mim que muita gente assim não é feliz em lugar algum. Fato. É preciso bom senso, maturidade, aceitar diferenças e estar disposto a se adaptar. A felicidade é relativa. Agora o que é muito chato é gente que vem perguntar espantada: nossa, você e tão feliz, né? hahaha Bom, acho que felicidade mesmo não é para os fracos! rs Bjs

Andréa de Azevedo Freitas disse...

A vida nunca é sempre a mesma. O que hoje queremos intensamente, quando estiver nas nossas mãos com certeza perderá um pouco do charme, nos fazendo correr atrás de outro objetivo. Paris tem coisas maravilhosas, o Rio de Janeiro e o Brasil também... Percebo, na verdade, que o mundo "encolheu", e que a opção de morar aqui ou acolá vai ficando mais ampla. Vamos viver sem bairrismos, aproveitando o melhor de cada lugar, sendo coerentes com nossos ideais e nossos sentimentos. Bjs.

Anônimo disse...

Taí, felicidade como uma escolha, gostei do seu post. Eu não sou do tipo que vê a vida através de lentes cor-de-rosa, mas também escolhi ser feliz aqui e agora, pois estar aqui foi uma escolha minha. Escolha que fiz para mudar uma situação que eu não considerava boa. Como você disse, não vale a pena ficar lamentando o passado ou sonhando com o futuro, quando o bom mesmo é aproveitar o presente! :)

Beijos,
Lidia.

Karina Ghisoni disse...

Olá Milena, sou Karina e cheguei em Paris esta semana, vou morar aqui por 4 meses para fazer uma parte do meu PhD aqui. Não falo francês, somente inglês e estou procurando grupos de brasileiros para fazer parte, você poderia me indicar algum? Muito obrigada :)

Milena F. disse...

Karina, quando cheguei na França fiz muitas amizades pelo antigo Orkut, mas agora, nessa era de facebook, participo de alguns grupos nas ninguém quer se encontrar de verdade, só bater papo pela internet :(
Se quiser, vá até a página do blog pelo facebook (https://www.facebook.com/ViverPlenamenteParis) e me deixe uma mensagem privada, falaremos melhor por lá!

Andréa de Azevedo Freitas disse...

Muito importante essa sua postura de não ficar nostálgica, idealizando uma pátria amada, distante e perfeita. Pra ser sincera, Milena, acho que o mundo todo virou uma coisa só, houve uma aproximação entre os países, através dos meios de comunicação, e a internet definitivamente reduziu as distâncias. Mesmo as roupas, os hábitos, a forma como as pessoas encaram a vida... Vai tudo se homogeneizando. Esse "banzo", essa saudade de uma pessoa especial, de um amigo, também me parece um delírio, porque a gente passa um ano, dois anos, sem visitar um amigo, sem dar um telefonema. Mesmo os nossos pais, depois que saímos da casa deles, passamos a conduzir a nossa vida sem a presença física deles, então não vejo sentido em choradeira por esse motivo também. A vida está difícil pra todo lado, em qualquer país, então se você está se sentindo à vontade aí, bato palmas pra você!