Eu poderia listar aqui uma seqüência de comportamentos que a gente vê tipicamente em franceses, mas o que me chama mais atenção é que eles estão sempre com um livro de viagem na mão! Calma, vocês dirão que em viagens todo mundo tem um guia de viagens, mas eu vejo uma sutil diferença, porém marcante, que tentarei explicar. Um dos livros de viagens preferido dos franceses é o Routard (palavra que equivale ao nosso "mochileiro"), e existe de tudo que é país e todas as cidades que os franceses gostam de visitar. Uma nova versão é lançada todos os anos. Nesse tipo de livro, o mais intrigante é que ele é completamente em preto e branco (com exceção da capa), impresso em papel jornal e não tem nenhuma foto!!! Ou seja, é só leitura mesmo! E isso eu acho que diferencia um francês de um outro turista comum: além de ler muito antes, ele lê durante a viagem!!!
Durante??? Isso!
A gente encontra o francês diante de um monumento ou parado em uma rua, lendo tudo sobre aquele local. Se ele está entre amigos ou família, um vai estar lendo em voz alta e explicando aos outros o que se passou ali. E imaginem a frustração se eles não encontram em nenhum livro ou nenhuma placa toda a história de tudo que se passou ou se passa por ali!!!
Em nossa viagem a Roma, lembro que eu estava sentada no pátio interno do museu do Vaticano e Sylvain estava intrigado com um globo terrestre exposto bem no meio do pátio. Ele não sossegou e foi procurar alguma informação, e eu fiquei ali sentada esperando. Vi centenas (ou milhares, pois fiquei quase uma hora ali!!!) de pessoas passarem por ali, fotografarem e partirem... Mas sempre que aparecia um francês, ele procurava no livro alguma informação sobre a obra, queria saber porquê ela estava lá, o que significava, etc... Eu ali sentada com um livro em francês na mão e todos vinham me perguntar se eu tinha alguma informação sobre o globo!!!
Então, eu diria que um francês não visita um momumento por visitar, ele se interessa porque em uma época se passou algo ali, porque tem toda uma história ou um ato de criação por trás.
E acho que esse tipo de curiosidade começa desde cedo. Mais tarde, nós estávamos na Igreja que abriga a escultura de Michelangelo (o Moisés), e um menino francês de uns 8 anos exclama maravilhado aos pais, em um francês rebuscado que não encontramos qualquer adulto:
"Eu já vi maravilhas nesses meus 8 anos, mas a beleza desta obra ultrapassa tudo que eu poderia imaginar..."
Na mesma viagem, mais tarde em Murano, visitando o museu do vidro, uma menina de uns 8 anos igualmente lia todas as fichas expostas e explicava para a mãe todo o processo de fabricação do vidro. A mãe a estimulava, fazia perguntas, a menina lia, buscava a resposta e respondia.
Para mim o livro de viagens (quando bem feito) é fundamental, pois vai me explicar, além de detalhes básicos (como os horários de abertura, dias e horários de gratuidade, por exemplo), os detalhes do que se passou naqueles locais, e então visitar o que mais me interessa! Um monte de pedras pode não significar nada para muita gente, mas quando sabemos que se tratam de ruínas de um local importante em um determinado momento da humanidade, esse "monte de pedras" começa a ter um outro significado no nosso imaginário.
No início confesso que achava esse tipo de livro (sem imagens) superchato, mas agora me acostumei tanto que não viajo sem!
Questões a debater (quero conhecer a sua opinião!):
- Vocês costumam pesquisar antes e/ou durante a viagem?
- Você acha que existe algo que se repete no comportamento dos viajantes do seu país (onde nasceu ou onde mora), ou reparou em algo típico de outros povos?
P.S.: Esse post não é um estudo sociológico do comportamento dos franceses, mas surgiu do que pude observar MUITO até então. Claro que vocês podem encontrar franceses por aí que não estão nem aí para o que se passou no local que estão visitando (ou então muitos que nem gostam de viajar, por exemplo), ou então um outro turista superconcentrado na sua leitura e em todos os detalhes...
12 comentários:
Olá Milena!
Fazendo uma busca sobre Rouen a um tempo atras "cai" no seu blog e agora sempre que estou pensando em alguma nova viagem, dou uma olhadinha no seu blog pra ver se vc já foi no meu proximo destino e pode me dar alguma "dica" sobre o local rsrs
Bom, sobre o livro de viagem... acho tão natural pesquisar em casa e depois chegar nos pontos turisticos, sentar e ler sobre o assunto (geralmente em voz alta quando estou com amigos) que nao acho que isso seja uma "coisa de frances" rsrs
Ta certo que achei peculiar o guia nao ter fotos e nao ser colorido... mas acho natural chegar num local e querer saber a sua origem, a historia por tras de cada coisa...
Pelo menos essa é a opiniao de uma gaucha que veio morar em Paris e anda sempre com um guia na bolsa rsrs
Gosto muito do seu blog! Seguirei visitando!
Bjus, Manuela
Talvez os meninos franceses teriam muito a ensinar os superficiais pestinhas americanos, rs!
Bom , por aqui geralmente eles fazem pesquisa em relação à filme(vendo qual a porcentagem de um filme para outro e vendo quantas pessoas recomendaram o filme).
Vale tb para outras coisas como hotéis, restaurantes e serviços.Eles têm um site chamado tripadvisor, que envolve bem essa questão do entretenimento e do dining.
Bjos!
Olá, Milena.Eu leio e procuro buscar o máximo de informações quando viajo. Mas eu sinto que as pessoas em geral apenas passam pelos lugares sem procurar saber muita coisa.
que legal! eu tb adoro saber a historia por de tras dos monumentos e predios. Mas é realmente dificil a gente parar e começar a ler. Geralmente eu leio antes pra ja ir sabendo haha e qdo consigo pegar o guia, dou uma refrescada na leitura, mas é um saco ficar carregando o tal livrinho pra la e pra ca haha bjs!
Manu, obrigada pela visitinha!!! também sou gaúcha, e olha que em quase 3 anos por aqui ainda não tinha encontrado conterrâneos! Eles estão bem escondidinhos!!! seja sempre bem-vinda ao blog, e se precisar de dica sobre outro lugar fala, pode ser que eu já tenha passado por lá, mas é que ainda não postei tudo, falta tempo e "courage"!
Como eu disse, esse aspecto me chamou muito a atenção vindo de franceses, mas é apenas a minha observação, ainda não tinha reparado em outras nacionalidades, mas que tem sempre acreditei que tinha tb, pois ninguém é igual, não é?
Gisley, claro que nem todas as crianças francesas são assim, tudo vai depender do nível cultural dos pais na minha opinião. A escola pode estimular, mas se não tiver um apoio dos pais, tudo pára desde que a criança sai da escola. Mas infelizmente, recentemente em Veneza, achei os jovens americanos os mais mal-educados, jogando restos de MacDonalds da rua ou nos canais, pareciam estar ali só para paquerar e fazer arruaça. Imagino que muitos estavam ali porque se interessavam mesmo pela cidade, mas nesse caso estavam tão apagadinhos em comparação com os compatriotas que chamavam a atenção de forma tão negativa!!!
Maria Renata e Mikelli, cada um aproveita a viagem como quer, mas me choca um pouco a pessoa que tira uma foto na frente de um monumento e nem se interessa em saber do que se trata! Claro que tem tanta coisa para ver e visitar, é impossível em tão pouco tempo saber tudo de cor!
Então, se vejo algo durante uma viagem e não sei de onde saiu, quando chego em casa vou pesquisar para tentar entender.
Também tendo falar com as pessoas do local sempre que possível, que nos dão geralmente excelentes informações, e de graça! eh realmente incômodo carregar livros em viagem, mas agora já me acostumei e levo menos roupas para sobrar um espacinho para os livros... O pior é que durante nossa viagem à Italia, separei um guia de Roma e de Veneza, quando chego lá, noto que a mochila estava mais pesada do que o esperado... meu marido ainda tinha acrescentado dois livros na última hora, para que eu não visse antes de partir! Em compensação, ele não pensou no número suficiente de peças de roupa para 10 dias de viagem!!! hahaha
Adorei o blog! Acabo de comprar um guia routard da propria Paris e eh muito util, com mapas, etc. Muito bom.
Adorei seu blog!
Oi Milena, tudo bem? Achei lindo seu blog.Mas confesso q fiquei mega interessada na sua opinião, por assim dizer, profissional acerca dos franceses.O mal-humor francês, vc sabe, é tema recorrente em quase todos os blogs.O q vc pensa q pode justificar tal comportamento? Amo psicologia, e vou à Paris em junho 2012.E gostaria de entender este aspecto da "cultura" francesa.Bjos.MIRA TORQUATO (SP-BRASIL)
Há muito tempo queria falar sobre "os franceses", mas o texto sempre fica inacabado. Não queria que fosse uma resposta a todos os blogs que falam mau dos franceses!
Mas já adianto que a minha experiência aqui não tem nada a ver com o que se fala geralmente dos franceses... Não me lembro de ter sido mal-tratada por um (vai ter gente mau-amada em qualquer lugar, e no Brasil já vi MUITO mesmo!), e sempre que vamos ao Brasil, fico bem atentiva e as pessoas não ficam sorrindo para o vazio nas ruas e transportes públicos (todo muito critica que francês não sorri), a gente pega um ônibus no Brasil e sempre vai ter alguém cheirando mau, ainda mais se for na volta do trabalho, ou alguém com mau-hálito (então tb acho que não é exclusividade de francês!) e não é em toda loja e/ou restaurante que seremos bem-tratados...
O problema é que eu acho que a gente vem para a França e idealiza o brasileiro, esquecendo que tb tem muita gente de mau com a vida, muito gente mau-educada e invejosa... Infelizmente essas 3 pessoas a gente encontra em toda parte.
Morri de rir com o garotinho de oito anos que já viu muita coisa do alto de sua idade.
Em Paris vi dois estereótipos bem reais: um italiano apressando a filha no Louvre: "Andiamo, figlia" e ela: "Ma padre, io quiero volare il quadro" (Tô chutando, não parlo niente) e um grupo de jovens japoneses: o líder tentava consolar a namorada que não ia ganhar mais nada no shopping de Montparnasse (ela tinha só umas seis sacolas de compras, tadinha). A teen: "snifsnifsniffbuabuabuachororêgascaaaaaaaaa", o marmanjo, falando encurvado e sussurrado: "gorororoguerêrêrêsaporôrôrô", rs...
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