Quando a gente menos espera essa sensação entra no nosso dia e toma conta de nossas sentimentos.
Basta abrir uma gaveta no trabalho e se deparar com um inusitado arroz parboilizado*. Para muitas pessoas esse arroz não teria sentido nenhum, mas para mim ele traz recordações gravadas a ferro e fogo na minha memória. Ele me lembra os melhores momentos da minha juventude e alguns dos mais difíceis também. Pois dos meus 18 anos 25 anos vivi uma linda história de amor. Nós nos víamos todos os dias, eu já acordava feliz da vida pensando no dia que me esperava. Esse encontro já começava pela manhã, continuava durante o almoço e estendia-se pela tarde e início da noite.
Confesso que até voltava tristinha para casa, não queria me separar de jeito nenhum...
Foi ela que me ajudou a aperfeiçoar o meu inglês e com ela tive meu primeiro contato com a língua francesa. através dela conheci pessoas que foram e ainda são tão importantes para mim. Foi por ela que li muitos livros, que entrei em pesquisa e que fiz extensão.
Em 2005 foi o começo do fim. Eu prometi que nunca a abandonaria, mas terminei a minha graduação e já não tinha tanto tempo para ela. Minhas visitas se tornaram mais espaçadas. Continuamos praticando o inglês, mas a minha cabeça no final das contas foi parar na França e eu já não conseguia mais me concentrar como antes na nossa relação.
Quando "visitei" o Brasil pela primeira vez, ocasião esta acompanhada do meu marido, fiz questão de apresentá-los. Acho que ele nunca entendeu como a UFRGS** foi importante para mim e o espaço que ela ocupa ainda hoje na minha vida, mesmo assim distante e sem praticamente mais nenhum contato.
Melhor assim, desta forma ele nem se dá conta que seu principal concorrente no meu coração não é nenhum outro homem, nenhuma outra pessoa, mas um conjunto de prédios onde pessoas constroem e transmitem conhecimentos.
Hoje eu daria qualquer coisa para comer aquele arroz parboilizado com feijão no bandejão do RU.
Só hoje, amanhã deve doer menos.
Só hoje, amanhã deve doer menos.
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Essa é uma homenagem aos meus colegas da Psicologia, da Matemática (sem nem citar todos os outros da Farmácia, Medicina, Odonto, Nutrição, Enfermagem, Engenharias, Letras, Pedagogia...) que cruzaram o meu caminho), da PROREXT (e principalmente do Unisaúde), do SOP, do Hospital de Clínicas...
* O arroz parboilizado era um clássico da gastronomia do(s) restaurante(s) universitário(s) da UFRGS. Nunca comi em outro lugar.
** UFRGS= Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
8 comentários:
Oi Milena, que texto lindo! Fui devorando curiosa e demorei para entender do que se tratava, mesmo tendo visto a foto, #desligadona.
Beijão
Tambpem adoirei seu texto. E tambpem amo a UNESP onde estudei... o local lindo em que ela está... a salgueiro chorão que plantamos quando nos formamos!!!
adorei seu texto e você ter compartilhado seu amor pela universidade conosco.
Que texto lindíssimo :))
xoxo*
Milena,
Como não falar com saudade e romantismo de uma época tão especial na vida?! Eu tambem tenho lembranças que me fazem suspirar, embora nunca tenha comido na Faculdade. Provavelmente, se tivesse, tambem gostaria de provar mais uma vez o arroz com feijão.
Fiquei emocionada com a sensibilidade do seu texto. Humanamente verdadeiro.
Obrigada por compartilhar com palavrs vindas do coração.
Bjs
Tem que ter um coração muito duro para não ter saudades da época da faculdade.Novos amigos,toneladas de conhecimento e até comida ruim.Noites estudando, puro terror na época de provas,topava fazer tudo de novo.
Também sinto saudade dos meus tempos de faculdade... com algumas pessoas mantenho contato até hoje (ainda que virtualmente), já outros colegas "sumiram", rs... A vida de cada um segue por caminhos tão distintos que fica difícil manter contato, mesmo com quem a gente tinha muita afinidade... é... faz parte do ciclo da vida!
Oi Milena, que lindo texto! Lindo mesmo!
Também estudei na UFRGS, me formei em jornalismo, depois entrei para a biologia, fiz cadeiras das relações internacionais e depois entrei para a Letras, onde cursei um ano até me mudar para São Paulo. Andei por todos os campus, quase todas bibliotecas, comi muito arroz do RU, trabalhei na Relinter (a secretaria de relações internacionais da universidade), fui monitora dos laboratorios de foto, de rádio, bolsista de iniciação científica... ou seja, passei, como tu, boa parte da minha vida lá dentro. Esses tempos, fui lá buscar alguns documentos e me deu um misto de alegria e nostalgia. Alegria por sentir que é ainda a minha casa, que me sinto tão bem e sou acolhida lá, e nostalgia porque sei que não posso voltar mais àquela vida, àquela relação. Agora estudo na USP, mas ela não tem o carinho e a mesma importância que a UFRGS tem. Ao menos para mim.
Beijos!
Helena
Que barato se a gente parar bem pra pensar a comida é algo curioso.E nos faz refletir lembranças e histórias com pessoas.É inacreditável, o sabor de algo, o cheiro nossa ativa emoções.Beijocas
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