sábado, 18 de abril de 2020

Quarentena na França

Já estamos em quarentena há mais de 1 mês e isso vai durar no mínimo até o dia 11 de maio.

Pelo que vejo na TV e na internet a impressão que tenho é que todo mundo está adorando, tudo é maravilhoso, nunca existiu nada comparável à ter a oportunidade de ficar em casa e ai daquele que reclama, sempre vem alguém nos lembrar da Anne Frank, dos que foram lutar em guerras, ou nos dizer que temos um problema se não gostamos de ficar em casa (e propor um psicológo online). 

Ninguém parece tampouco se preocupar com o futuro das crianças, atualmente privadas de qualquer outro contato humano que não seja o do seu lar, nenhuma outra criança e quase nada de atividades ao ar livre. 

Sem contar os idealistas, para os quais sairemos de tudo isso mais justos, mais solidários, respeitando a ecologia. O mundo após o coronavírus será tão lindo! Ainda estou esperando para ver mas por enquanto estamos produzindo mais lixo e reciclando menos, o que não me anuncia nada de bom.

Ainda faço parte dos nostalgicos, para quem o mundo era melhor antes do que agora, apesar de suas injustiças. Ir e vir sem ser controlado pela polícia, fazer uma longa caminhada (ou bicicleta) até cansar as pernas, tomar um sorvete numa ensolarada tarde de primavera, ouvir (e ver!) as crianças que brincam, riem e correm, se reunir com os familiares e amigos, ir ao cinema (ou qualquer outra atividade cultural)... Parece que sou a única pessoa da França inteira que tem vontade de voltar ao trabalho (ou escola).

Prazeres que antes eram tão banais e hoje temos que aprender a viver sem, cada um na sua família nuclear e todo outro contato passando pelas tecnologias. Vivemos de imagens virtuais em fluco contínuo. Os ecos e reflexos  que nos chegam do mundo exterior nos parecem tão irreais do fundo da nossa caverna. Talvez a idade, mas para mim um jantar por vídeo não tem o mesmo sabor...

Tento imaginar como será esse mundo de amanhã (após o 11 de maio) e mesmo com muita imaginação não consigo vê-lo e o que vejo não me agrada. 
Talvez eu seja uma pessoa muito pragmática, para cada situação que solução? 

A primeira, o que faremos das crianças? Os pais deixarão seus filhos brincar livremente com as outras? Usarão máscaras, quando poderão voltar à escola e suas outras atividades?

Como trabalharemos? Além das máscaras, os intervalos para alimentação? 

Como nos comportaremos nos transportes públicos? Se o privilégio for pelos transportes individuais lá se vai para o beleléu o sonho de cidades menos congestionadas e menos poluídas... E os outros transportes como aviões e ônibus, se reduzirem a capacidade serão ainda mais poluentes (já que para o meio ambiente é mais interessante encher um avião ou ônibus  do que fazer circular dois)

Como consumiremos? Compras não serão mais um prazer (para os olhos), compraremos e sairemos de casa somente por extrema necessidade? Quem não tem dinheiro e "só quer dar uma olhadinha" (pelo prazer dos olhos ou para sonhar, pensar) será privado desse "prazer"?

Será o fim de todas as atividades coletivas ou lugares que recebam o público, bares, museus, cursos, academias, teatros? Será o fim de viagens, hotéis, restaurantes?

Como nos relacionaremos? Além de máscaras, não poder encostar nem nos aproximar? Perdidos de contatos humanos, o que ficará de humano?

Hoje nenhuma certeza. Amanhã talvez a gente possa ver mais claro. Talvez.

3 comentários:

Eliana disse...

É Milena...vamos esperar pra ver. Quem viver, verá! rs São tantas as reflexões, muitas perguntas e ansiedade. Mas cá pra nós...muita gente estava vivendo no piloto automático. Hoje muitos se deparam com uma realidade jamais pensada. Casais que precisam conviver e viver embaixo do mesmo teto e ao mesmo tempo. Olhar pros filhos muitas vezes terceirizados aos cuidados de outros. Os solitários orgulhosos tendo que repensar a "solidão". Parentes e amigos que não podem se visitar...
Realmente...só nos resta esperar.

Nadja Kari disse...

Olááá!

Não sei se meu comentário vai ficar duplicado, pois já tentei comentar e fica dando erro. Hehehe!
Como tem sido o retorno ao "novo normal" por aí? Aqui as coisas estão caminhando bem, poucos casos no país, quase nenhum na província. Muitas novas regras de socialização e a reabertura dos bares e restaurantes.
Ainda não consegui escrever sobre isso, contar como tem sido. Estamos indo com calma, pois queremos ver se com a reabertura terá algum novo surto.

Um beijo e espero que estejam bem.

Gustavo Woltmann disse...

Não se preocupe, daqui a alguns meses descobrem a vacina, e toda essa pandemia acaba.