sábado, 10 de agosto de 2013

Impressões sobre o Brasil

Voltei essa semana do Brasil, onde lá estive por pouco mais de 3 semanas e gostaria de compartilhar algumas coisas que percebi com o meu olhar "de fora", mas ao mesmo tempo de alguém que já viveu lá:

Segurança

- Em termos de "sensação" (não estou falando de estatísticas), não senti medo nem me senti em perigo em nenhum momento. Cada vez que leio ou ouço de amigos o quanto a violência tem aumentado, fico meio paranóica, mas é a terceira vez que felizmente não me senti em insegurança. 
De vez em quando tenho a impressão que quem é alvo dessas violências são os ricos (ou que querem se passar por) que ostentam riquezas, como carros e objetos de luxo. Ou então a violência que se vê todos os dias ligada ao tráfico, ou violência entre pessoas que seconhecem. Mas passeando como turista sem sinais de riqueza e utilizando transportes publicos em nenhum momento vivenciamos situações estranhas.
Fico pensando se muitas vezes a mídia não exagera um pouco, já que é interesse de muitos vender essa imagem de um país violento, caso contrario não existiriam tantas empresas de segurança privada enriquecendo, carros blindados, etc...

Ricos e pobres
- Fica cada vez mais evidente essa dissociação. Recentemente o Brasil tem "acordado" e manifestado pelos seus direitos básicos de saúde, educação e transportes públicos. Mas será mesmo que o rico quer se misturar com o pobre? Quer colocar seu filho em uma escola em que parte dos coleguinhas são "pobres"? Quer andar em ônibus ou metrô no meio de gente muitas vezes mal-vestida, suada? Quer ficar no mesmo quarto de hospital que alguém que mora na favela? Eu tenho lá as minhas dúvidas.

Transportes
Nas capitais onde mais fiquei, como Porto Alegre e Recife achei os transportes muito bons. Ônibus com ar condicionado, muitos com acesso a cadeirantes, não muito lotados e limpos. Mas quem utiliza é praticamente quem é pobre. Desde que possivel, os brasileiros sonham em comprar um carro e ir para o trabalho de carro... mesmo que demore 1h para fazer um trajeto que poderia ser feito de metrô em 20 minutos... E consequentemente as estradas não comportam toda essa massa veiculada que sai de casa de carro todos os dias... Não tem reestruturação urbana que funcione... E nisso as cidades vão se transformando em grandes estacionamentos gigantes e rodovias enormes. Na ditadura diziam que o progresso é construir estradas... Eu acho que o brasileiro ainda tem essa mesma mentalidade.

Recepção ao estrangeiro
Em Porto Alegre e arredores eu nunca me surpreendi de encontrar poucas pessoas que falam inglês, já que não é uma cidade turística. Mas fiquei muito surpresa que em Recife era igualmente dificílimo encontrar alguém com um conhecimento básico da língua. Nem mesmo nas Informações Turísticas o pessoal não se comunicava bem em inglês. Cardápio em inglês? Nem pensar...
Fora isso o povo parecia muito contente em receber turistas, eram sorridentes e prestativos (mas sempre tinha eu, que falava português e já tinha uma idéia do que queria e do preço). 

Cordialidade
O brasileiro pode ser cordial e hospitaleiro, um povo simpático, mas ainda assim nas ruas as pessoas andam sérias e de cara fechada. Quem vem para a França adora dizer que os franceses (parisienses, de uma forma geral) não sorriem nas ruas, mas olha, no Brasil ninguém fica andando sozinho na rua e sorrindo... de repente a pessoa que teve uma noite fantástica, que ganhou uma promoção... mas não é regra geral.

E nem todo mundo gosta de dar informações, principalmente quando são constantemente importunadas com isso no seu dia a dia:
Você já se colocou no lugar da pessoa para quem centenas e centenas de passantes ficam pedindo informação todos os dias?
Preços
Em 2011 já tinha percebido que o Brasil andava caro, então por isso desta vez não fiquei de cabelos em pé. Supermercado naminha opinião custa uma fortuna para o brasileiro "médio", além de estarem pagando por produtos de baixa qualidade. Marcas consideradas boas que vendem produtos com muita gordura ruim, conservantes e colorantes que não são mais utilizados na Europa há muito tempo, e até mesmo parabenos na comida! Tenho impressão que o brasileiro não se preocupa muito ainda com o que come, e prefere comprar tudo industrializado, que é considerado sinônimo de qualidade, como maionese pronta, molho pronto, etc... 
Claro que aqui na França as pessoas também aproveitam essas facilidades das comidas prontas, mas é muito valorizado quem faz a sua própria maionese, seu molho, seu pão, etc... No Brasil tenho a impressão que é considerado meio anti-higiênico e coisa da vovózinha!!!

Morar no Brasil
Eu particularmente por enquanto não tenho vontade de voltar a viver no Brasil simplesmente porque a minha mentalidade não bate com a maioria das pessoas de lá. 
Apenas um exemplo: a minha mentalidade é que devemos deixar o carro em casa sempre que possível no dia a dia, tanto pelo meio ambiente quanto para evitar esse trânsito horrível, um dos canceres das grandes cidades. Mas fale isso para uma pessoa de classe média/alta? Eles acham loucura. Ninguém quer perder um pouco do seu conforto e andar no meio de "pobre".

No Brasil fica cada vez mais evidente para mim que mais importante do que "ser" ou mesmo ter é "mostrar que se tem".

14 comentários:

Bruxa do 203 disse...

O transporte em Porto Alegre é bom para quem mora perto do centro. Eu pego ônibus bem vazio todos os dias, mas quem mora beeem longe, por exemplo na zona norte, tem sérios problemas: poucos horários e muito cheios.

Como sou da área de Letras, sempre convivi muito com pessoas que falam inglês e outros idiomas, mas tenho visto vários casos de turistas comentando sobre a dificuldade de se comunicar por aqui.

Muitos alimentos e cosméticos fabricados no Brasil são totalmente sem qualidade, mas infelizmente o povo se considera exigente e ainda acha que tudo que é daqui é superior.

Trilhamarupiara disse...

Olá Milena, que bom que teve boas impressões do Brasil nesta sua visita, vc teve sorte com o transporte publico onde usou, não uso transporte publico aqui mas com certeza o cenário é bem desolador! Bjooosss

Enaldo Soares disse...

Eu acho que você faz uma avaliação muito correta e precisa do Brasil. A violência está mais concentrada na periferia (brigas de narcotraficantes e disputas de bairros). A violência realmente aumentou, na minha cidade (Juiz de Fora, MG) há um homicídio a cada dois dias.

Assino em baixo tudo o que você disse sobre supermercados. Qualquer comprinha individual simples sai por trinta, quarenta reais. O brasileiro não sabe o que come, acha lindo comer gordura, sal, açúcar e proteína animal, tudo processado, e se espanta quando alguém diz que na Europa os preços são mais baixos e os produtos de melhor qualidade. Quando se fala em comida orgânica e/ou vegetariana as pessoas pensam que se trata de capim.

Em Portugal todo mundo que lida com turismo fala inglês e espanhol fluentemente. O brasileiro fala tão pouco inglês como os russos (mas eles têm a justificativa do alfabeto cirílico, uma dificuldade a mais)

Depois que voltei de Paris (2011) tomei consciência de que o carro é um mal. Eu gostaria de trabalhar por meio de metrô,mas não há em minha cidade. Se eu for de ônibus levaria o dobro ou o triplo do tempo do que carro, e eu dou aulas às sete da manhã. Mas, realmente, o brasileiro tira o carro da garagem até para ir na padaria da esquina. E desde o governo Washington Luís que o Brasil prefere construir rodovias a ferrovias, o que é uma lástima e um "favor" às montadoras.

Eliana disse...

É Milena, vc voltou com as mesmas impressões que eu. Quando estamos por lá, pegamos ônibus, metrô, andamos a pé...e tem gente que fica horrorizada rs e, sim, "ter" é muuuito mais importante que "ser" e com esta mentalidade a coisa não vai muito longe, não! Quanto aos alimentos, realmente, a qualidade deixa a desejar e os preços lá em cima. Se vc quer ter uma dieta mais saudável tem que preparar os bolsos.

Bia disse...

Ola! Só náo concordo com a parte do transporte publico... Talvez por que vc nao usou o bus no horário de pico, afinal, estava de férias. Nao precisava ter horario para ir e voltar e nao precisava pegar o busao todo dia no mesmo horario.... e por isso tudo, brasileiro prefere carro. bjs

Milena F. disse...

Bruxa, essa é uma realidade em vários países, quanto mais longe do centro, mais lotados serão os ônibus e mais espaçados os horários... Mas sempre me surpreendo que o ônibus para o Iguatemi está sempre vazio...
Sobre o inglês, fico pensando que quem realmente estudou não acaba trabalhando nesses setores ligados ao público e ao turismo.
Conheço muita gente em POA que fala inglês, mas tb muita gente que estudou 10 anos de inglês em grandes escolas, mas aí sempre que vou ao Brasil "fogem" pois não se sentem a vontade para falarem inglês...

Kellen, sei que o Brasil não vive uma realidade uniforme e em muitos lugares não se tem opções de transporte ou as mesmas são muito ruins. Cabe à população cobrar por isso, se realmente é o que desejam.

Enaldo, é uma pena que a violência esteja aumentando na sua cidade (e não só nela). Sempre considero contraditório que o brasileiro, considerado um povo tão acolhedor, simpático, seja também um dos que mais comete assassinatos e outros crimes...

Eliana, realmente comer bem (=saudável) no Brasil custa muito caro!

Bia, não conheço a realidade do Brasil inteiro, mas nessas 3 semanas pegamos sim transporte geralmente em horários de pico, como às 7h o metrô de Recife, ônibus entre 18 e 19h30... A mesma coisa em POA. Mesmo em férias a gente sai cedo e volta tarde para aproveitar o dia. A única diferença era o engarrafamento (provocado pelo excesso de carros e motos) que fazia o trajeto demorar mais ou menos tempo.
Se você usar transporte público em horário de pico em qualquer país da Europa ou do mundo verá que serão bem mais lotados que em outros horários, mas nem por isso as pessoas deixam de usar.

Gisella Diorio disse...

Excelente post... perfeito!

Kenia disse...

Nossa eu tenho a mesma sensação. Depois de um tempo fora, percebi que aqui a gente valoriza muito o ter e muito pouco o fazer ou ser. É gente que faz dívidas para mobiliar casa e passa anos sem viajar nas férias pra pagar tudo, gente que gasta tudo que ganha pra manter um carro que parece ser o bem mais importante, e por aí vai...
Eu moro no Rio, longe do centro e levo cerca de 2 horas pra chegar a minha universidade diariamente. Felizmente tenho a opção de ir de carro mas claro que prefiro ir de ônibus dormindo que ir com o pé na embreagem por mais de 1 hora sem conseguir passar da segunda marcha. Quantos na minha universidade pensam como eu?? Muito poucos pq o legal no Brasil é ter um carro! Claro que o transporte público tem que melhorar, mas na minha opinião a solução não é lotar as ruas de carros não mesmo!
Bjs

Beth Blue disse...

Milena, muito legal ler as observacões de quem, como eu, mora fora. Muita coisa que você citou percebi também - como os precos, achei tudo caro no Rio em 2011. Também estive em POA (tenho familia lá) e os precos eram mais baixos que no Rio. Acho que Rio e SP devem ser mesmo as cidades mais caras do Brasil...

Quanto â seguranca, não me senti insegura, andava de metrô e de ônibus durante o dia na Zona Sul...mas de noite não saía, programas com crianca são diurnos, né?

Queria muito ter ido este ano mas a grana não deu, vamos ter de esperar mais um ano! Liam mal aguenta esperar, se apaixonou pelo Brasil em 2011. Quer morar lá quando crescer!

Beth Blue disse...

Esta questao de status, de exibir carro novo e querer ter a maior casa do bairro etc, nunca gostei, nem quando ainda morava ni Brasil.

Agora, morando há 19 anos na Holanda onde a bicicleta é a favorita de muitos e as ciclovias são maravilhosas, eu estranho ainda mais. É uma mentalidade típica de país pobre (na China tem cada vez mais automóveis nas ruas). Já nos países ricos, principalmente nas capitais européias, o transporte público torna o carro dispensävel.

Quem tem carro mesmo aqui em Amsterdam sao os imigrantes pobres que mal tem emprego, ganh pouco mas sempre dão um jeito de comprar um carro (geralmente usado). Vejo isso na minha rua: todo mundo tem carro menos eu...eu nem carteira de motorista tenho (nem quero). E amo viajar de trem, por exemplo...

vievivi.blogspot.com disse...

Interessante o post. A violencia é um fato, não dá pra sair tranquila a qualquer hora, e não só os ricos, acho até que mais os pobres por serem menos cuidadosos, são vítimas fáceis.

Aqui também se valoriza quem faz seu pão caseiro,sua maionese, mas infelizmente, a maioria ainda prefere e também por falta de organização/tempo acaba indo no mais fácil, o lixo industrial/comida de rua.

Acredito que aqui o rico e o pobre já vive meio misturado, afinal, a empregada doméstica,babá, o zelador, o lavador do carro...nesse momento vejo que justo aquele que menos pode faz um esforço pra ter um carro, até porque o governo estimula, e só vive dentro dele, os ricos estão se deslocando de helicopteros, aviões ultimamente, assim como os políticos, artistas e alguns jogadores de futebol,rsrsrs

Infelizmente, aqui o transporte público é superdeficiente, uma população enorme, deslocamentos longos e nem todos tem disposição para pegar várias conduções até chegar ao destino, isso complica e é uma razão pra muita gente usar o carro próprio.

Euzinha tenho enumerado os benefícios de não ter carro, com o lucro já visitei duas vezes Paris,rsrsrs, mas reconheço que nem todos podem abrir mão de tê-lo, mesmo que queira.

Em abril, estive por aí e me surpreendi com a quantidade de carros populares estacionados nas ruas, isso num bairro fora de Paris, que no ano anterior não era assim, muito mesmo, até pensei, as pessoas compraram carros mas não usam, ficam estacionados na rua, talvez por ser um bairro mais popular/imigrantes e bem lonnge, mas tem metro e onibus integrados.

Matheus Bianchini Alves disse...

Milena, sinceramente. Se eu fosse você, não faria mais textos sobre o Brasil. Você já viu que o país é uma bosta, que o povo é conivente e alienado, que a corrupção reina absoluta...

Eu percebo que você só passa raiva.
Continue fazendo textos sobre a França, esse país maravilhoso em que você vive e que tanta felicidade te proporciona.
Esquece isso aqui, meu irmão.
O Brasil está condenado.

Milena F. disse...

Beth, você tem razão!

A Europa já viveu a propagação de veículos e hoje percebe que não é a saída, mas os países ditos "emergentes" não aprendem com os erros dos outros e querem "aprender" por eles mesmos...

Wilma, óbvio que não podemos comparar as distâncias no Brasil e na Europa!
Não sei em que bairro você foi, mas aqui tem muita gente que mora longe, onde não tem transporte (ou por conforto) e que faz de carro uma parte do trajeto, aí deixa o carro e segue caminho em transporte público.

Milena F. disse...

Rightwingmind, não acredito que exista lugar maravilhoso e/ou perfeito no mundo, mas considero muito importante abrir a mente, ver e ouvir outras experiências e pontos de vista para aprender e evoluir. Por essa razão gosto de mostrar meu olhar sobre muitas coisas, dentre elas o Brasil.

Por que não aproveitar o que é bom "lá fora" e usar como inspiração para tentar fazer algo de "bom" "aí dentro"?

Percebi um tom sarcástico no seu comentário, mas aceito e respeito porque foi ao mesmo tempo respeitador. Todavia, se o comentário tinha a intenção de ser sarcástico, não entendi o seu ponto de vista sobre a corrupção. Devo entender a partir do seu ponto de vista que não existe corrupção no país?